Há
muito tempo estou querendo escrever este texto. Acho que finalmente
chegou o momento. O motivo de querer falar sobre isso é que estamos
sempre tentando ser melhores e obtendo pouco sucesso.
Estamos sempre querendo
surpreender, ser pessoas de destaque, exemplos de sucesso, o melhor
namorado, namorada, marido, esposa, pai, mãe, empregado, atleta,
aluno, professor, cozinheiro, o mais querido da turma, uma pessoa
inesquecível… Nós vivemos a vida tentando se destacar e lutando
para sermos lembrados. Queremos ser o melhor ser humano que todos ao
nosso redor já conheceram.
Nunca, em hipótese alguma,
queremos ser esquecidos. Não queremos ser deixados para trás, não
que nossos amigos fiquem bravos com a gente, não queremos errar e
quando erramos e somos criticados como consequência nos sentimos
injustiçados e ficamos com raiva do mundo porque não fomos
perdoados ou porque achamos que estamos certos e temos o direito de
se revoltar contra quem nos fez algum mal.
Já
vi muitas pessoas dizerem que quando tiverem filhos farão com que
seus filhos façam tal e tal coisa, como se fossem eles mesmos.
Querem ensinar aos filhos seus comportamentos egoístas e se mostram
orgulhosos disso. Estas pessoas querem criar seus filhos para serem
uma miniatura de si mesmos para que possam sentir orgulho quando
ouvirem que “ele é igualzinho ao pai”.
Tudo
isso constitui uma tentativa de imortalizar a própria imagem, para
quando abandonarem o mundo deixarem a sua marca ou até mesmo um
sucessor para que nunca sejam esquecidos por quem ficou, como se o
que acontece no mundo tivesse alguma importância para quem já
morreu. É uma forma de egoísmo que me parece piada, pois o morto
não vai nem estar presente para ver as pessoas lhe adorando e, mesmo
que esteja sob uma forma invisível, não vai haver nenhum bajulador
o enxergando. Quem já morreu não existe para o mundo e o mundo não
existe para quem já morreu.
Em
meio a todas essas tentativas frustradas de atingir a perfeição eu
olho para a minha gata. Ela simplesmente não faz nada, só é gata.
Fico imaginando se ela tentasse ser uma gata melhor do que os outros
gatos. Seria uma chata tentando chamar atenção a todo custo e
pedindo todos os holofotes para si. Ela simplesmente não está nem
aí para quem ela é, que tipo de gata ela é, qual a cor, o que as
pessoas pensam dela. Ela só é aquilo que a natureza lhe fez: gata,
e nem pra isso ela liga. Ela não se importa com o que ela é ou não
é, se ela é gata ou se é outra coisa, mas em vez de perder tempo
com isso ela simplesmente é! E simplesmente sendo ela possui graça
em tudo o que faz, me fazendo sorrir e sendo especial sem nenhuma
intenção.
FYM
Jerônimo
Martins Marana
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