sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Vida a dois

Com o texto “Casamento” eu iniciei o tema sobre amor entre duas pessoas porque como disse naquele texto, acredito que a grande maioria dos sofrimentos humanos é consequência do sentimento de amor e da ausência dele. Na faixa etária que vai da adolescência até algo em torno de 25 ou 30 anos de idade e especialmente nesta geração e cultura (regidas pelo capitalismo e dos últimos 50 anos, provavelmente), parece que todas as coisas da vida giram em torno do amor e da companhia de uma pessoa que nos faça sentir completos.

Nos países ou nas regiões que são atingidas mais profundamente pelo capitalismo, até mesmo as relações amorosas se tornam capitalistas. Falo isso porque hoje em dia as pessoas recebem inúmeros estímulos dos meios de comunicação que utilizam a sexualidade, uma coisa natural do ser humano, como forma de vender os seus produtos. É por isso que a cada dia o “horário nobre” começa mais cedo.

O resultado disso é que muitas pessoas de todas as idades vão se acostumando à libertinagem e à promiscuidade, pois acabam iludidas pelo trabalho dos poderosos capitalistas (que também são vítimas daquilo que criam apesar de estarem na “outra margem do rio”) e acabam entendendo como sendo normais coisas como o adultério, a primeira relação sexual aos dez anos de idade, beijar uma pessoa diferente (ou várias) por festa, por final de semana, por dia ou por noite, bigamia, poligamia, pornografia, etc. Não que eu esteja condenando quem seja adepto disso tudo, pois tais atos não passam de hábitos que são, na verdade, frutos da inconsciência e são estes que nos levam à busca do Caminho do Meio. Mesmo que nossos erros não sejam percebidos na encarnação atual, ao longo de nossa trajetória vamos sofrendo as conseqüências de nossos atos passados, e isso se torna um aprendizado contínuo ao longo de várias encarnações que nos levará à libertação do samsara (termo em sânscrito utilizado no budismo que significa o ciclo de nascimentos e mortes, encarnações e reencarnações, a roda da vida).

O grande problema desta geração, resultado de tudo o que foi mencionado nos parágrafos anteriores, é o sentimento de solidão. As pessoas se sentem muito sozinhas, pois são pressionadas o tempo todo a estarem ligadas de forma afetiva e íntima com alguém, mesmo que seja por apenas algumas horas em um único dia ou ocasionalmente, e isso as força a experimentar. Experimentar cada vez mais e mais sensações e pessoas diferentes. Por isso, arrumar um namorado ou namorada hoje em dia é tão fácil e, ao mesmo tempo, tão difícil.

Talvez muitos não concordem, mas ter um relacionamento é mesmo muito fácil. Como as pessoas se sentem sozinhas, rapidamente se ligam a qualquer indivíduo que aparece se mostrando atencioso e carinhoso. Isso é pelo fato de que a pessoa que lhe aparece se comportando assim, muitas vezes é porque ela também se sente sozinha, então se comporta dessa forma com qualquer pessoa que encontra pela frente para facilitar as coisas, pois é assim que é na televisão e, portanto, é assim que “dá certo”. Esse é um dos motivos que torna tão fácil para as pessoas se interessarem por alguém. E como é fácil se interessar por alguém, também o é perder o interesse, porque logo que aparece uma pessoa, aparece outra igualmente interessante para ser experimentada. Infelizmente, isso faz com que as pessoas arrumem namorados quando não deviam, em situações inadequadas ou precipitadamente, dessa maneira sofrem com repentinas e consecutivas perdas de companheiros.

O problema é que muitas pessoas querem primeiro se beijar, para depois se conhecer. Quando duas pessoas se encontram em uma situação qualquer em que o clima propício é criado, as duas se apresentam de uma forma que mostra seu lado bom, ou um lado forjado que na realidade não possuem. Ou seja, acabam demonstrando só um lado de sua personalidade ou até mesmo fingindo ser alguém que não são, sendo que às vezes começa um namoro a partir daí. Acontece que no começo os dois se entendem muito bem, já que há uma euforia por causa da novidade e das mesmas velhas “sensações e emoções novas”, então ainda há energia para sustentar o lado bom da personalidade, ou a personalidade forjada. Mas depois ambos começam a conhecer os defeitos, hábitos e o lado negativo um do outro e percebem a incompatibilidade dos gostos e hábitos. É assim que uma hora a máscara cai e ambos conhecem um ao outro como realmente são. Daí surge as brigas, ruptura do laço e o tão conhecido sofrimento, que é sempre citado no aqui no blog.

Nesse ponto eu pergunto: como podem duas pessoas dizer que se amam e acabar criando uma guerra tão nociva? E como podem duas pessoas que criaram uma guerra dessas acreditar que se amam ou que um dia se amaram? Aminha resposta para isso é que não era realmente amor, era apego. Ambos eram apegados a uma idéia que tinham do outro. Houve uma idealização, foi criada uma personalidade, uma ilusão na mente dos indivíduos representando o outro, e essa imagem foi idolatrada de forma a se acreditar que era real, até o dia em que ela mostrou defeitos e distorções, tentando trazê-los para a realidade enquanto sofriam com sua própria criação.

Imagine uma pessoa cujo cachorro fugiu de casa, e para compensar a perda e ter uma companhia adota um gato. Só que essa pessoa adota o gato e não vê o gato como gato, mas o vê como um cachorro. Então tenta ensinar o gato a brincar com brinquedos de cachorro, correr atrás de gravetos, latir, cavar buracos e até leva o gato para passear preso a uma coleira. Só que, com o tempo, essa pessoa começa a ficar frustrada porque o “cão” não brinca como ele quer, não aprende a sentar quando se pede, não vem quando é chamado, não gosta de passear na coleira e ainda por cima sai de casa à noite, dorme em cima de muros e telhados e ainda arranha todos os imóveis.

Vou apresentar algumas possibilidades de desfecho desta trama. A primeira é: o gato vai embora ou a pessoa se desfaz dele porque ele não atende às suas expectativas. Ela culpa o gato por não ser o que ela espera, e sofrendo com a ausência procura outro gato para fazer de cachorro. Segunda: a pessoa percebe que o gato não é o cachorro. Neste caso o sujeito pode agir também de duas formas. Primeira: começa a tratá-lo e amá-lo pelo que ele é. Segunda: se desfaz dele, entende a perda do cão e fica bem sem nenhum animal de estimação até que se interesse naturalmente por outro ou resolva procurar pelo cachorro perdido.

Utilizei este exemplo para facilitar a compreensão do “fenômeno” que eu chamo de substituição. Agora, com o exemplo dado, vou transferi-lo para um relacionamento amoroso, ou “amoroso”.

Apesar de não demonstrarem explicitamente, a maioria das pessoas tem muita dificuldade de aceitar e assimilar a dor da perda. Muitas vezes é tão forte o apego pela pessoa com quem o laço foi rompido, que se acaba arrumando um “gato” no lugar do “cão”. Dizendo de outra forma, é como se o individuo, após perder a namorada logo arrumasse outra e “vesti-la” de antiga namorada. Na sua mente, a namorada atual representa à antiga, e assim ela recebe a função de lhe dar algo que ele espera da outra, que já partiu. Um dia ele irá inconscientemente perceber que suas expectativas não estão sendo atendidas e que a atual namorada não é antiga. Então as coisas irão piorar, haverá uma crise, muitas brigas e por fim a ruptura e logo haverá uma busca por uma segunda substituta, que também será “vestida” de primeira namorada.

Mas o sujeito poderá também notar que a segunda, ou esta terceira namorada não é a primeira, e tomar uma atitude diferente, pois perceberá a pessoa como ela é. Agora, então, pode ser que as coisas melhorem e ele a ame pelo que ela é ou simplesmente tenha um novo apego. Ou as duas coisas. Ou então perceberá que na verdade não ama nenhuma das três. Ou que ama a primeira e tentará reatar os nós com ela. O importante é o tempo sozinho para entender o que sente e o que não sente.

Com tudo isso, quero apontar o fato de que muitas vezes não sabemos o que estamos sentindo, por isso pode ser arriscado iniciar um relacionamento com alguém que terminou um namoro há três ou quatro meses atrás, pois esse tempo é muito pouco para esquecer de alguém. Se esqueceu, acredito que seja ou porque não sentia o que achava que sentia ou porque ainda sente e não sabe. É claro que um relacionamento que começa dessa forma ou com um beijo precipitado, como eu disse em outro trecho, também pode terminar em um casamento feliz. Entretanto, muitas vezes uma pessoa pode ficar na memória de outra por muitos anos, mesmo que seja na memória inconsciente. Não raro encontramos alguém casado e que já é pai ou mãe, e ainda sente algo por uma outra pessoa que não seu marido ou esposa. Às vezes acontece de o indivíduo se separar e depois notar que sempre teve esse sentimento, ou então se separa porque notou que sentia.

Com toda essa indução ao relacionamento íntimo que estamos expostos e muitas vezes vulneráveis, a maioria de nós acaba sendo forçada a enterrar os seus sentimentos. Se demonstramos para os outros que estamos muito tristes e afetados por causa de um relacionamento rompido, somos pressionados por muita gente para procurar por outra pessoa, com o argumento de que não devemos ficar sofrendo por causa de quem nos deixou. Isso faz com que as pessoas busquem meios de fugir daquilo que sentem, tentando esconder dos outros e até de si mesmos a frustração sentida. Já mencionei isso no post “A proibição do sentir” e o Alexandre e eu também mencionamos o mesmo na nossa postagem de abertura do blog “Convidamos você a abrir sua mente”. E convenhamos que fugir é muito fácil.

As artimanhas são tantas, as mais banais e inimagináveis, vícios e hábitos de todo tipo são utilizados com esse fim: atirar-se ao trabalho, diversões de todo o tipo, como filmes, música, dança, esportes, até coisas mais “pesadas” como bebida, cigarro e drogas. Para “esquecer” alguém, uma das saídas mais famosas é encontrar outra pessoa, ou outras. Outra forma é a raiva: muitos criam um sentimento de raiva por aquele de quem se separou, só que é um sentimento falso, pois as pessoas o criam quando na verdade nem o sentem realmente. E esse sentimento ainda acompanha inúmeras vezes as outras atitudes já citadas no parágrafo. E pelo que eu tenho visto, sempre que ainda existe raiva, desprezo ou outros sentimentos e formas negativas de tratamento, é porque a pessoa a quem se dirigem estas coisas ainda tem algum significado para o outro.


Mas quero citar uma em especial, que é uma atitude inconsciente de defesa que utilizamos para muitas coisas. Essa atitude consiste em desejar que outras pessoas não consigam o que não conseguimos. Conheço uma pessoa que parecia demonstrar que inconscientemente não queria que desse certo o namoro de uma outra com quem tinha amizade, pois a situação desta outra era semelhante à sua situação falha. A razão dessa atitude era que se o relacionamento dessa pessoa amiga não desse certo ela acreditaria que relacionamentos assim não dão certo nunca, então ficaria tranquila, acreditando que isso acontece não só com ela, mas com todos. Entretanto, se este namoro desse certo ela ficaria arrasada, pois o seu foi mal sucedido e o da outra pessoa, que era em condições semelhantes, foi bem sucedido.

Sabemos que vivemos em um mundo onde os valores são machistas. Já se foi o tempo em que o homem dominou a mulher pela força e acredito que vivemos em uma fase de dominação psicológica. De uma forma geral, o homem vê a mulher como objeto de prazer (claro que não exclusivamente), e essa dominação consiste em fazer com que a mulher, inconscientemente é claro, se reconheça como objeto de prazer, se veja dessa maneira. Até peças de roupa são criadas com esse intuito, e no final as mulheres acabam gostando delas e até mesmo elas próprias irão criá-las e fabricá-las, isso porque estes valores já estão impregnados na (in)consciência tanto de homens quanto de mulheres.

Esse tipo de dominação esconde o medo inconsciente que as mulheres tem dos homens. Apesar de serem dominadas psicologicamente, elas ainda tem medo físico (inconsciente é claro) remanescente da era em que eram dominadas pela força. Até identifiquei uma característica postural da maioria das mulheres que vejo por aí que acredito que seja por causa desse medo. Não percebem tanto as mulheres quanto os homens, que eles conseguem o que querem delas dando-lhes em troca algo que elas desejam. Eles se deixam ser dominados para que possam dominar. Em casa é a mulher quem manda para que o homem consiga o que ele quer. Na verdade eles tentam controlá-las porque tem medo de perdê-las. As mulheres não sabem o quanto são importantes para os homens (para os interessados, isso é dito por Robert A. Johnson no livro She: a chave do entendimento da psicologia feminina).

Nos países em que a cultura é menos afetada pelas relações capitalistas as coisas costumam serem um pouco diferentes. O extremo oriente é assim. Em muitas regiões de países como Índia, Tailândia, China, Indonésia, Vietnã, entre outros, as pessoas podem ficar sozinhas por toda a vida até que um dia encontrem a pessoa com quem irão se casar. Na Tailândia, só depois de terem sido monges budistas por um período de três ou quatro meses, em que chegam a meditar até vinte horas por dia, os homens são considerados bons para casar (mas com certeza não deve ser assim em todo lugar e nem todo mundo deve ligar pra isso). Não estou entrando no mérito de serem estas as situações ideais ou não, mas mostrando a diferença de tratamento com relação ao amor e à sexualidade em países com tradições espirituais mais profundas, ou pelo menos diferentes.

É claro que o capitalismo não criou a promiscuidade, pois estas coisas existem desde os primórdios da civilização, inclusive nos países dos exemplos acima, mas perceba quanta pornografia, sensualidade e apelo sexual de todo tipo há nos filmes, novelas, desenhos animados, reality shows, danças, comerciais sapatos, perfumes,  bebidas, principalmente cerveja, e músicas que você sabe que existem e veja que ele é responsável por grande parte disso.

Tudo isso porque nos sentimos e temos medo de ficar sozinhos... Tudo para encobrir um sentimento momentâneo de soidão...

Vejo muita gente se queixar de não encontrar alguém para um relacionamento realmente firme, estável, sério. Não é por menos, pois a maioria das pessoas se envolve com tanta gente e com uma frequência tão alta que se torna muito difícil encontrar alguém sincero ou mesmo saber ou ter certeza de que tal pessoa é assim. Acho incrível como muita gente diz que sabe muito sobre relacionamentos amorosos (ou íntimos) porque tem muitas experiências, quando nem mesmo sabem muito sobre si mesmos e sobre o que estão sentindo. Pensam que sabem lidar com relacionamentos enquanto começam e terminam vários repetidamente.

Ouço muito a frase "quem eu quero não me quer", e isso mostra como as pessoas se sentem sozinhas e querem estar com alguém. Mas não é necessário estar com alguém, e sim compreender a situação e o que se passa no coração, e para isso é preciso se dar um tempo. E o mesmo eu digo com relação ao outro, pois é necessário lhe dar um tempo para que ele possa também compreender o que sente, principalmente logo após ter terminado um relacionamento ou tendo ambos se conhecido recentemente. Falo disso porque acredito que o que importa não é se você tem um relacionamento ou não, mas sim a qualidade do seu relacionamento, por isso as pessoas não devem se precipitar. Sinta o que quer que esteja sentindo. Não adianta tentar colher flores no inverno, por isso esteja sozinho quando estiver sozinho e namore quando estiver namorando. Devemos aceitar o que o presente nos trás e conviver bem com isso, mesmo que o que temos no presente seja um sentimento de solidão. Dessa forma teremos uma melhor compreensão do que está ocorrendo, então estaremos bem, seja sozinhos ou acompanhados.

FYM

Jerônimo Martins Marana

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Reflexões

Nesse primeiro post após o aniversário de um ano dO Ilimitado trazemos uma reflexão de nosso amigo Marcelo Yoshida, acerca de um tema que circula entre a amizade, sinceridade, cinismo e falsidade. Esperamos que nossos leitores, assim como nós, apreciem este interessante pensamento.

Muito obrigado, Marcelo, pela reflexão e por aceitar compartilhá-la no globs.

O Ilimitado

Reflexões


A partir de quando, de que momento, criamos uma máscara daquilo que somos? A partir de que momento fingimos ser alguma coisa que não somos para aceitação social ou para criar uma imagem essencialmente diferente daquilo que somos? Compreendo que existem muitos fatores que levam a esse tipo de atitude. Históricos traumáticos, violência, bulling, problemas familiares. Mas até quando e até que medida isso se torna saudável? Quer dizer, isso é bom de alguma forma?

Eu vejo pessoas que não são sinceras umas com as outras, em que as amizades são conveniências. Pessoas que vivem num mundo de american pie e acham que a vida é assim. Tudo bem que se divertir é legal, sair com os amigos é bom e tudo o mais, mas isso é o significado da vida? Queremos mesmo isso? APENAS bebida, festa e pegação?

Sob outro aspecto, acredito que defender seu ponto de vista e suas idéias é uma atitude louvável, mas será que não há limites para isso? O quanto disso não é uma máscara? Será que refletimos mesmo sobre as nossas atitudes e como isso afeta o outro agressivamente ou ofensivamente? Será que nos importamos com o outro, com o próximo, com aquele que vemos quase todo dia na sala de aula ou na faculdade?

Será que acreditamos de fato que o problema do outro é exclusivamente do outro? Será que somos tão insensíveis a ponto de fazer piada com coisas que são muito sérias? Será que nos julgamos tão superiores assim?

O outro se torna apenas um objeto, se torna um meio de promoção social, um intermediário para alcançar um objetivo, apenas uma coisa. Não vemos o outro como ser humano, como alguém que sente. Estamos preocupados apenas com os nossos sentimentos, com os nossos problemas, com aquilo que nós pensamos. Não vemos no outro um semelhante, um igual, um ser humano.

É triste ver como se tem a noção de que sua própria idéia é superior à do outro a ponto de levar para o pessoal, para a agressão, para a ofensa. Não sabemos separar aquilo que é discussão teórica (ou prática) de relação pessoal. Não é possível que pessoas que tem divergência política, religiosa, metodológica sejam amigas? Será que não mesmo? Por que não deixamos os assuntos do lado de fora das relações pessoais?

Dentro dessas relações pessoais, quantas delas são brigas? Quantas delas são sinceras e verdadeiras de fato, de coração? Com quantas pessoas nos importamos de fato no ambiente social em que vivemos? Falamos mal daquele que convive conosco? Daquele que está todo dia no mesmo grupinho de pessoas? Daquele que sai conosco em festa? Daqueles que vão à nossa casa? 

Que tipo de relação é essa? Isso é verdadeiro?

O que é verdadeiro? O que você faz na frente de todos ou o que se sente de fato quando se vai embora? O que se fala pra todo mundo ouvir ou aquilo que se pensa quando se está só? Você é o que você é quando está sozinho, quando está com os amigos, quando está com a família? São todos a mesma pessoa?

O que plantamos e o que colheremos?

FYM

Marcelo Sussumu Yoshida

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Ódio e vingança no terreno fértil

Em uma das primeiras postagens do blog eu falei sobre o fato de que as pessoas fazem o que eu poderia chamar de “plantar sementes” de comportamento nas crianças, e por esse motivo chamei as crianças de “terreno fértil”. Novamente estou a escrever sobre o “terreno fértil” e sobre mais dois tipos de sementes negativas que acredito que os adultos plantam nas crianças e que florescem como comportamentos dificílimos de serem reconhecidos e removidos, assim como qualquer outro vício de comportamento. São elas as sementes de ódio e de vingança.

Gosto muito de observar as crianças e como os adultos cuidam delas, como as ensinam e como as educam, porque adoro crianças e acabo descobrindo e aprendendo muito com isso. Mas por outro lado, não gosto de ver como os adultos cuidam, ensinam e educam as crianças. É um paradoxo. É porque apesar de gostar de aprender, às vezes fico entristecido com a observação, porque também acabo descobrindo um pouco sobre como se forma um adulto cheio de sofrimento e sentimentos negativos além de vícios de comportamento prejudiciais tanto a si mesmos quanto a outrem. Isso significa que eu descubro como é que eu e outras pessoas nos transformamos no que somos hoje, nos seres humanos impregnados de manchas no espírito, na consciência e no coração. Essa descoberta não é o problema, ela é positiva. O problema real é que eu ainda não consegui remover de mim as máculas e também não descobri como reverter isso logo na infância, ou seja, ainda não descobri como é que se educa uma criança para se tornar um ser humano completamente humano.

Tenho reparado que sementes de ódio e vingança são plantadas em situações absolutamente banais, situações estas em que são ditas algumas coisas completamente desnecessárias. Desnecessárias e negativas, porém eficientes em impregnar na cabeça de seres inocentes algumas intenções, atitudes e comportamentos igualmente negativos.

Vou descrever uma situação de forma bem generalizada e simples. Por um lado acredito que você já tenha presenciado um evento semelhante, mas gostaria que você nunca tivesse tido esse “prazer infeliz”. Por outro lado eu espero que você possa identificar a situação se você já viu acontecer. Entretanto, o que mais me preocupo é que você não seja uma dessas pessoas que age ou pensa dessa maneira, mas se for, convido você a tentar mudar ou ao menos pensar a respeito.

Às vezes acontece de, por exemplo, uma criança pequena estar correndo no quintal e se choca com o cachorro ou uma criança maior, e então ela cai no chão e às vezes se machuca. Então chega alguém para apaziguar a situação e acalmar o choro da criança, e é aí que são disparadas algumas palavras sem nenhuma ponderação sobre as suas consequências a curto e longo prazo. Nesse tipo de situação a pessoa chega com uma conversa que só piora a situação, mesmo que as coisas se acalmem e melhorem no nível superficial. Em primeiro lugar o sujeito pega a criança no colo e a abraça, até aí tudo bem. Mas depois diz palavras tais como “vou bater nele” ou “ele é bobo” ou feio, chato, burro, qualquer coisa que rebaixe o outro, que nem sempre é o culpado, ou o único culpado, pelo acidente, mas é claro que a criança vai concordar com a pessoa que a socorreu. Quando uma pessoa te defende em uma situação qualquer você acaba ficando do lado dela, isso é normal.

O problema que eu vejo é que a criança desvia a sua atenção da dor e do choro para colocá-la nas palavras enganosas de uma pessoa que não pondera sobre suas possíveis consequências. Aí com o tempo a criança vai se acostumando a culpar o outro, mesmo quando ela mesma é a causadora da situação ou quando pelo menos tem sua parte nisso. E mesmo quando não tem, o que resta? Resta uma hostilidade por parte da criança que surgiu de palavras “doces” de conforto, que lentamente vão criando a idéia de que ela é o centro do mundo, de que quando algo acontece diferente do que ela esperava a culpa sempre vai recair sobre outra pessoa, é sempre o mundo que está errado por não corresponder às suas expectativas.

Engraçado... Ou triste, mas neste exato momento estou presenciando mais uma situação onde uma criança é, e de uma forma chantagista, induzida a agir de uma determinada maneira que acredito que possa render alguma coisa negativa no futuro. É curioso que eu decidi escrever agora porque hoje mesmo eu presenciei mais uma vez um episódio deste tipo, e acabou de ocorrer uma outra vez bem agora, aqui do meu lado, comprovando como isso é frequente.

Enfim, continuando o que estava a dizer, neste contexto a criança vai aprendendo a se vingar e vai desenvolvendo e refinando o seu ódio. No final das contas a idéia de castigar o outro lhe agrada, e com o passar dos anos isso vai sendo cada vez mais exercitado e firmado no comportamento, chegando a ocorrer de forma espontânea. Vai ser fácil reagir assim, de forma violenta, no futuro. Quando sentir alguma dor, seja física ou emocional, a primeira reação vai ser submeter o outro à culpa, isso acontece instantaneamente. A reação é muito rápida porque já se tornou automática. Ponderar se agir dessa maneira é bom ou não, certo ou errado, se é o outro mesmo quem é culpado, isso vai ocorrer mais pra frente, depois que alguém apontar o erro ou depois que a pessoa perceber que isso só a está prejudicando. Depois de reconhecer o erro, deixar de reagir de forma violenta é fácil, o difícil é remover a intenção e o sentimento violento – aqui utilizo violência no seu termo mais abrangente, que diz respeito à violência verbal ou de outros tipos e também à força do sentimento –, seja ele consciente ou inconsciente, de culpar o outro. Ver quem é o culpado até é o de menos, o mais importante é como não reagir, é apagar a má intenção. Contudo, existem pessoas que nunca reconhecem a intenção, o pensamento, o sentimento e a ação prejudicial.

Infelizmente as feridas desta intenção consciente ou inconsciente e deste sentimento de raiva e sede de vingança perduram, e como eu expliquei no texto “A proibição do sentir”, ficam no corpo. O corpo reflete o que acontece na mente, e uma dor no corpo é apenas uma manifestação física de uma “dor na mente”. Gostaria que fosse tão fácil remover essas feridas quanto o é incutir este tipo de pensamento, sentimento, comportamento e intenção, mas o trabalho de remoção é muito maior e mais difícil, o que é uma pena. É mais fácil não plantar uma semente do que remover do lugar uma árvore que já criou raízes fortes e profundas, cresceu e atingiu sua plenitude. É melhor prevenir. Melhor é escolher as sementes certas para plantar a fim de não colher frutos indesejados.

FYM

Jerônimo Martins Marana

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A constante mutação e os hábitos

Quando olhamos para o por do Sol não notamos o movimento da Terra em relação ao astro, e isso ocorre porque os astros e os planetas se movem de forma tão constante e uniforme que tudo parece estar parado, e quando menos percebemos o Sol já se foi. Isso acontece porque tudo muda o tempo todo, nada permanece estático.

Utilizei este exemplo para ilustrar o fato de que o universo todo está em constante mutação. Imutável é a lei de que tudo muda. Esse é o ensinamento do livro I Ching, clássico chinês antiquíssimo, o famoso livro de adivinhação e sabedoria. Para quem não se lembra, é o oráculo que se joga com três moedas que possuem um furo quadrado no meio. Confúcio estudou esse livro e diz-se que ele afirmava desejar possuir uma vida inteira só para estudá-lo. Em uma passagem de algum livro do Osho, encontra-se uma história (logo postarei ela aqui no blog) em que Buda afirma que nunca somos os mesmos, porque mudamos a cada momento. Milhões de células do nosso corpo nascem e morrem a cada instante, então apenas somos muito parecidos com alguém que viveu antes. Lao Tsé também afirma o mesmo.

Da mesma forma nossa mente muda. Conforme vivemos e experienciamos o mundo, vamos mudando a nossa maneira de pensar. Tente se lembrar de algumas coisas que você pensava ou fazia anos antes e que achava que nunca mudaria, você pode até rir um pouco. Entretanto, muitas pessoas tentam permanecer com o mesmo pensamento e comportamento durante toda a vida, querem ser sempre do mesmo jeito. Se gasta muita energia mental para se manter no mesmo padrão sempre, sem mudar. O ego se ilude achando que a pessoa permanece do mesmo jeito, mas por mais que tente, ele é incapaz de impedir que ela mude. Pelo menos um pouco o indivíduo acaba transformando algo na sua personalidade, no seu pensamento.

Mas existem pessoas que entendem que precisam mudar, e um dos maiores obstáculos que essas pessoas encontram são os hábitos. Mas o que são os hábitos? De uma forma geral, penso que hábitos são padrões de pensamento e comportamento. Por exemplo, se uma pessoa age de forma violenta não é porque ela é violenta em si, mas porque seu padrão de pensamento é violento, ou seja, ela está habituada a pensar de forma violenta. De uma forma geral, a maioria das pessoas forma a sua identidade a partir de seus hábitos. Você mesmo é a pessoa que gosta disso e desgosta daquilo, que come uma coisa e não outra, que ouve tal e tal tipo de música, etc. Isso não passa de hábitos, você apenas se habituou a acompanhar determinados tipos de coisas rejeitando outras. Veja por exemplo a alimentação: a alimentação é um hábito, você desde criança é acostumado a comer determinado tipo de comida e então quando você muda para uma cultura muito diferente acaba estranhando. Muitas pessoas dizem, por exemplo, que não conseguem viver sem doce. Novamente, isso é só um hábito. Porém, é um erro tirar dos hábitos um sentido de “eu”, pois os hábitos não são a pessoa, não são o “eu”. O verdadeiro eu não é encontrado em coisas externas, mas as pessoas acabam se identificando e achando que são essas coisas.

Por causa da identificação, remover hábitos negativos e substituí-los por positivos acaba se tornando muito difícil, ainda mais levando em conta a forma como são construídos. Muitos deles foram formados há muitas gerações e transmitidos cultural e socialmente, por isso raramente são notados e contestados. Existem por exemplo as touradas, que são apreciadas pela maioria das pessoas de determinado país ao mesmo tempo em que para uma minoria naquela mesma cultura e para pessoas de outros países, como o nosso, é uma coisa horrenda. Mas é uma tradição muito antiga naquele local, por isso a maioria das pessoas não pensa a respeito. E o mesmo acontece em todos os países e culturas, INCLUSIVE O NOSSO (não podemos nos esquecer de que também temos erros, e como disse Jesus Cristo, não podemos desejar remover o cisco no olho do irmão quando nem mesmo percebemos a trave que se encontra em nosso próprio olho).

Grupos são formados em torno de interesses em comum, por isso surgem conversas e costumes que de uma forma geral são comuns a todas as pessoas do grupo, Mas ao mesmo tempo, uma pessoa pode pertencer a vários grupos, e assim possuir hábitos de acordo com cada grupo, deixando de lado os hábitos de um grupo quando está com outro. É por isso que o grupo de amigos da faculdade é diferente do grupo do trabalho, da escola ou dos amigos de infância. Dentro de um grupo as pessoas gostam aproximadamente das mesmas coisas, vão aos mesmos lugares e conversam sobre as mesmas coisas, e como naturalmente existem algumas diferenças de interesse entre as pessoas, dentro de um grupo são formados subgrupos.

Veja que trabalhamos com pessoas que realizam o mesmo tipo de trabalho, por isso ali existe um grupo, onde surgem assuntos que são comuns ao trabalho porque as pessoas fazem as mesmas coisas. Da mesma forma, este pode ser um subgrupo, pois onde trabalhamos existem pessoas que realizam outras funções que não a nossa. Assim o grupo é formado por pessoas que realizam funções diferentes, mas com objetivos em comum. Com essas pessoas a relação é diferente, pois os hábitos em comum são outros.

Da mesma forma, na faculdade as pessoas se agrupam em torno de um mesmo curso, portanto ali há um grupo formado, e outros grupos se formam de acordo com o ano de ingresso e também pela afinidade das pessoas entre si. Na família as pessoas conversam sobre as mesmas coisas, comem as mesmas coisas, falam das mesmas coisas. No grupo de amigos os temas dos assuntos são aproximadamente os mesmos, da mesma forma que os lugares freqüentados, as mesmas expressões são usadas, isso dá uma identidade, uma característica ao grupo.

Infelizmente, por causa da consciência comum (este é um termo que Eckhart Tolle utiliza no livro “O poder do Agora” para se referir ao nível de consciência que se encontra a maioria das pessoas) a mente da maioria das pessoas está presa ao passado, e por isso elas não acreditam muito em mudanças. Acontece que se você está mudando, inconscientemente elas não aceitam muito bem a mudança porque são apegadas a quem você era no passado e está tentando deixar de ser.

É por esses motivos que hábitos coletivos, ou seja, hábitos culturais e sociais são mais difíceis de serem removidos do que aqueles criados individualmente. Se os grupos possuem hábitos coletivos, as pessoas estão acostumadas a se relacionar com você de uma maneira determinada. É aí que se encontra a maior dificuldade na mudança, pois as pessoas mais próximas são justamente as que mais dificultam.

Quando você procura mudar e deixa de conversar sobre coisas que considera ou percebe serem negativas, ou muda qualquer tipo de costume, você acaba encontrando resistência por parte de muitas pessoas nos seus grupos, porque o ego delas acredita que você tem que permanecer o mesmo. Acredito que isso aconteça principalmente por dois motivos. Primeiro porque dessa forma as pessoas não precisam se esforçar para tratá-lo de forma diferente. Segundo porque com a sua mudança elas sentem uma ameaça à identidade do grupo e à identidade delas. Mas apesar de inconscientemente desejarem que você não mude, elas mesmas não repararam em como elas mesmas e o próprio grupo mudaram após alguns anos. Pense em um grupo de amigos e veja quantas coisas o grupo já deixou para trás.

Muitas vezes as pessoas demoram para entender, aceitar e respeitar as mudanças que ocorre em você, por isso elas lhe trazem as mesmas coisas que você quer deixar para trás e isso acaba te atrapalhando. Não é que as pessoas te atrapalham, mas sim que você se atrapalha por causa delas, porque elas vem conversar sobre coisas que você não quer mais falar, te convidam para lugares que você não quer mais frequentar e como você ainda está habituado a tudo isso você acaba fazendo de novo as mesmas coisas. Muitas vezes fazemos coisas que não queremos só porque ainda estamos habituados, sendo assim a culpa não é de ninguém além de nós mesmos.

Pela força que o ego se agarra as coisas passadas, acreditando que elas são estáticas e permantes, muito sofrimento é criado, até mesmo porque a energia envolvida para manter as coisas sob controle é muito grande. É como tentar parar as ondas do mar, é uma energia gasta inutilmente pois elas não vão parar. Da mesma forma, o ego não é capaz de manter as coisas iguais por muito tempo. Seja por causa da idade, amadurecimento ou experiências vividas alguma coisa na personalidade acaba mudando. Mesmo que algumas vezes acabamos arrumando alguma desculpa para justificar mudanças que dizíamos que nunca aconteceriam, invariavelmente elas acontecem.

Assim como dedicamos horas de estudo, por exemplo, para adquirir algum conhecimento na universidade, ou para atingir um objetivo, devemos igualmente investir tempo todos os dias para a mudança de nossos hábitos, seja lá qual for a forma que encontremos para se fazer isto. E também é normal que as pessoas que procuram uma transformação real e profunda acabem encontrando resistência, principalmente se tentarem mudar sem se desfazer do grupo que pertencem, até mesmo porque isso não é sempre necessário. Para estas pessoas, certamente é necessário abrir mão de algum tempo que era dedicado aos outros para que possam dedicar-se a si mesmas. Pode demorar até que as pessoas compreendam, e talvez isso nunca aconteça, mas não devemos nos preocupar muito com as dificuldades porque no momento certo as coisas se ajeitam. O importante é que sejamos sinceros, persistentes e fortes nas mudanças, pois assim encontraremos o nosso ser real e imutável, portanto, não desista de tentar mudar.

Por fim, indico a leitura ou releitura dos posts aquele que muda e saindo da zona de conforto para complementar este assunto.

FYM

Jerônimo Martins Marana

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Vida, universo e diferença de grandezas

Após um longo período hibernando, devido a todas as preocupações mundanas (faculdade, trabalho, final de semestre) o nosso globs volta à ativa.
            Para iniciar nossa volta posto agora um texto meu que comecei a escrever alguns meses atrás e só agora consegui concluir.

            VIDA, UNIVERSO E DIFERENÇA DE GRANDEZAS

Às vezes me pego viajando em meus pensamentos e fico surpreso até onde eles podem me levar quando não os impomos limites. Vamos do Brasil ao Japão e depois para Júpiter em questão de segundos. Somos surpreendidos constantemente por milhares de pensamentos que vem e vão sem parar e nos dão a sensação de uma grandeza sem tamanho. Ao mesmo tempo, uma sensação de aprisionamento, de ausência de liberdade nos acompanha o tempo todo e só nos damos conta quando reparamos nessa sensação. Por que estou falando sobre isso? Na verdade estou escrevendo este post porque fiquei intrigado com o conflito existente dentro da gente, esse vai e vem de sensações, um paradoxo de grandezas que coexistem dentro de cada indivíduo. Pensando nisso, vou tentar passar minha interpretação sobre o porquê e o para quê disso.

Quantas vezes paramos para pensar e nos achamos tão importantes que nos sentimos enormes, como se fôssemos os seres mais importantes do universo? Não sei bem o porquê desse pensamento, talvez seja um sentimento de grandeza porque achamos que sabemos demais, ou parece que nossa mente é tão ilimitada que seu alcance é infinito. Em outros momentos nos achamos tão insignificantes que nos sentimos minúsculos como se fôssemos microorganismos se comparados à imensidão do mundo que nos cerca. Nosso conhecimento parece tão limitado que parecemos bebês ao lado de um velho ancião de mil anos de idade.

Abstraindo um pouco o pensamento chego a uma questão mais profunda: O que é ser grande? Ou o que é ser pequeno? A física talvez responderia que é uma questão de referencial. Penso que para nós seres humanos essa afirmação se aplica de forma peculiar. Se pensarmos no nosso aspecto físico, material, somos uma matéria no espaço, uma partícula se comparado ao mundo, ou um gigante se comparado a uma formiga. Se pensarmos em nossa mente fica mais difícil encontrar um referencial, pois a mente possui um alcance imaterial, mas talvez ainda possível de medição, através daquilo que sabemos e de até onde ela pode chegar. Mas despindo-se dessa estrutura material e delimitada que é o corpo e desvencilhando-se da limitação de nossas mentes devido às suas inexoráveis ligações com o físico, livramo-nos do HUMANO e somos apenas SER, a essência, aquilo que está por trás do corpo e da mente. É aí que as leis e postulados físicos se perdem. Somos infinitamente grandes, mas ao mesmo tempo incrivelmente pequenos, somos o tudo e ao mesmo tempo o nada. O referencial não existe mais nesse plano.

Acredito que nossa existência nesse mundo físico seja permeada por significados, dicas, lições que se espalham ao nosso redor, visíveis ou ocultas, mas que indicam o que realmente somos, qual o sentido de estarmos aqui, dentre outras dessas questões tão misteriosas ao ser humano. Buscando uma interpretação para o porquê desses sentimentos tão paradoxais, cheguei a algumas conclusões das quais quero compartilhar aqui.

Acredito que esse paradoxo seja uma forma de compreendermos a nossa real natureza, a que está aprisionada dentro desse corpo físico. Vivendo em um corpo tão limitado pelas regras materiais podemos aprender a lidar com conceitos imateriais de forma gradual. Aprendemos que a terra não é chata e sim redonda. Aprendemos que o universo não gira ao nosso redor e nosso mundo gira ao redor do sol. Posteriormente aprendemos que nem o sol é o centro do universo. Estamos aprendendo que o universo que abriga o planeta em que vivemos e um número incontável de astros pode ser apenas um de uma rede enorme de universos entrelaçados*. Estamos aprendendo que a vida não é um privilégio do planeta Terra, mas que ela está em todo lugar. Se pensarmos no aspecto geral dessa evolução do conhecimento é possível encontrar uma sabedoria imaterial que só adquirimos quando a tornamos consciente. Lidar com grandezas inimagináveis só é possível quando o inimaginável se torna palpável, através de imagens, ou mesmo explicações matemáticas. Dessa forma, pensar no paradoxo de grandezas nos faz compreender que nada é tão pequeno que deva ser desprezado, ou é tão grande que deva ser o único. Se você compreender esse paradoxo, deixará de sentir a arrogância e prepotência de superioridade sobre outras espécies ou sobre diferenças entre a própria espécie. Também deixará de se humilhar diante daquilo que é considerado acima de você, ou daqueles que se julgam superiores. Com ele entendemos que é importante se preocupar com os pequenos detalhes, mas que não devemos nos prender a eles, pois as possibilidades que os determinam são imensas. Deixará de se diminuir diante do que não compreendemos. Entendo que o conflito entre grandezas seja parte de nossa natureza mundana que se preocupa em nos ensinar o caminho para a nossa essência. Compreender esse conflito faz parte do aprendizado na nossa passagem por esse planeta.

A intenção desse post, na verdade, é incitar a reflexão sobre sentimentos que possuímos e não sabemos quais seus motivo. Somos seres humanos por um motivo e não simplesmente para sobreviver sem nenhum objetivo, sem nenhuma perspectiva. Como disse anteriormente, as dicas estão em toda parte, mas não prestamos atenção a elas. Entender fenômenos como as diferentes grandezas que nos constitui permite que nos aproximemos de quem realmente somos. Resolvi escrever sobre as diferenças de grandezas porque estamos submersos em um oceano de preocupações que não nos levam a lugar algum. Existe uma imensidão de descobertas, aprendizados, experiências e um infinito desconhecido a ser explorado e a única coisa com a qual nos preocupamos é no quanto devemos trabalhar hoje para possuir isso ou aquilo amanhã. É claro que é fundamental nos preocuparmos com as pequenas coisas que nos mantém vivos, mas nos esquecemos que ainda mais importante é aprender sobre nós mesmos e sobre o infinito que está diante dos nossos olhos.

Para finalizar, deixarei o link de um vídeo que nos transmite uma idéia do tamanho do universo quando comparado ao nosso mundo: 


FYM

Alexandre Hernandes

* Se quiserem conhecer um pouco da teoria que versa sobre os múltiplos universos pesquise “multiverso”, “teoria M”, ou “teoria das cordas”, ou assistam um documentário de cinco partes da BBC que explica de maneira acessível aos leigos sobre essa teoria no link - http://www.youtube.com/watch?playnext=1&index=0&feature=PlayList&v=jDBCUIIkHYM&list=PL254CD5B08699547F  

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Não desista dos seus sonhos por causa da dificuldade

Considero de suma importância para o blog tratar dos sonhos. Não aqueles que temos durante o sono, mas os sonhos de realizações que queremos cumprir na vida. Para mim, uma vida sem sonhos não é uma vida, mas apenas uma inércia, ou seja, sem sonhos nós simplesmente sobrevivemos, apenas fazemos as coisas sem muito objetivo.

Se olharmos para as fases anteriores de nossas vidas veremos que sempre tivemos sonhos. Talvez eles tenham nascido conosco, talvez eles sejam o combustível da nossa busca espiritual e da nossa meta de realização, a felicidade. Qualquer pessoa no mundo tem sonhos, até os piores criminosos os tem, mesmo que estejam enterrados no inconsciente. E é por isso que fazem coisas tão terríveis, porque não conseguem vê-los realizados e às vezes nem mesmo tem consciência deles.

Sem sonhos nunca buscamos mais, mas me parece que, com o tempo, estes vão ficando pelo caminho porque a vida nos cobra. A cobrança é tão grande que somos derrubados muitas vezes, e é isso que faz com que os deixemos para trás, pois se não conseguimos atingir pequenas realizações, acabamos pensando que nunca iremos alcançar os nossos sonhos mais grandiosos, já que estes são mais difíceis do que as pequenas metas em que falhamos.

Se abandonamos estes desejos profundos ficamos limitados porque reduzimos nossa existência às coisas fáceis de serem obtidas e que qualquer pessoa normal obtêm. Então nossa vida acaba se resumindo a conseguir um diploma universitário ou um emprego para poder ter algum sustento, depois com isso ser capaz de construir e manter uma família com alguém que encontramos, e por fim colocar filhos no mundo sem saber exatamente o porquê. Logo, vivemos com o objetivo único de simplesmente sobreviver, sem trazer alguma contribuição para o mundo, sem conhecer o universo que vivemos, sem conhecer a nós mesmos, sem ter um objetivo claro para o que fazemos.

Já ouvi algumas pessoas dizerem que entraram na faculdade achando que iriam mudar o mundo, mas que depois viram que isso não era possível. Isso é um sonho, mas quando viram que não tinham a possibilidade de realizá-lo, abandonaram o comportamento e pensamento revolucionário, pois não encontraram força suficiente para mantê-los até a realização da meta. O problema de mudar o mundo é que de acordo com a sua história de vida cada pessoa o enxerga de uma maneira diferente. Isso significa que mesmo que todos vivam na mesma Terra, não vivemos no mesmo mundo. Daí vem a frustração, porque o indivíduo quer mudar um mundo que não é seu, um mundo que é do outro, um mundo no qual ele não vive, e isso é egoísmo, porque quer transformar o mundo do outro no que quer para si mesmo, sendo que aquele não quer.

Não podemos mudar um mundo que não vivemos. Mas você pode mudar o seu próprio mundo. E fazendo isso você automaticamente muda o dos outros, pelo menos um pouco, e essa é a possibilidade que você tem de atuar e transformar a vida deles. Quando você muda as pessoas percebem de alguma forma, e se você mudar para melhor você vai atingi-los de forma positiva. É o que dizia o sábio Confúcio: se não consegue mudar os outros tente ao menos mudar a si mesmo.

Por isso eu alerto para que não desista dos seus sonhos, por mais difíceis que eles pareçam. A humanidade precisa de pessoas assim, pessoas que encorajam as outras para que persigam seus objetivos até o fim, independentemente de quantas vezes falhem até atingi-los. Pessoas brilhantes como Isaac Newton ou Albert Einstein foram brilhantes por isso: foram até o fim, eles “pagaram para ver” o resultado de seus trabalhos árduos e do risco de se frustrar que se dispuseram a correr em busca do desconhecido.

Todas as pessoas tem objetivos em comum, mesmo que deles estejam inconscientes. Querem construir algo incrível, descobrir algo extraordinário, fazer coisas surpreendentes, ter um amor perfeito, ser feliz com suas necessidades emocionais satisfeitas. Não necessariamente todas as pessoas possuem todos estes objetivos, mas tenho certeza que tem pelo menos um deles. Mas infelizmente, desistem após uma, duas ou três derrotas e acabam achando que são sonhos infantis. Infantis com certeza são, porque vem da infância, mas não são imaturos.

Antes de escrever esta postagem eu assisti uma palestra da minha mestra e ela disse uma coisa muito interessante. Ela estava comentando sobre as vezes que se machucou tentando aprender a andar de bicicleta, mas uma hora ela conseguiu. Todos nós ralamos nossos cotovelos e joelhos muitas vezes tentando aprender a andar de bicicleta, mesmo quando ela ainda tinha rodinhas auxiliares. Mas se tivéssemos desistido após a primeira ou segunda queda, nunca teríamos aprendido e não teríamos atingido uma realização que era muito grandiosa para aquela fase da vida. Repare a felicidade de uma criança quando ela consegue pela primeira vez andar sozinha. Tenho certeza que pais e mães sentem uma emoção muito forte e que muitos deles choram quando veem seus filhos conseguindo uma coisa que para os próprios pais é tão simples, mas que para suas crianças é uma realização tão importante.

Não importa o tamanho do objetivo, importa a satisfação de vê-lo realizado. Não importa se andar de bicicleta é um objetivo pequeno para um adulto. Proporcionalmente, isso é tão grande quanto um objetivo de uma pessoa mais velha, porém, é a criança que tem maior satisfação, pois ela realizou, porque perseguiu até o fim, e o fim é quando o objetivo é realizado. Mas nós, os “maduros” e fracos adultos, começamos a ficar “em cima do muro” na adolescência, e quando ficamos mais velhos desistimos no meio do caminho, não alcançando mais a satisfação que com tanta facilidade e freqüência alcançávamos quando éramos “apenas simples” crianças.

Infelizmente desistimos porque pensamos em todos os obstáculos que estão no caminho da realização. Pensamos nas dificuldades que só virão depois que passarmos pela única dificuldade que temos: a do momento presente. Dizendo de outra forma, geralmente pensamos no obstáculo seguinte sem estarmos preparados para enfrentá-lo, quando na verdade, o pré-requisito para poder desafiá-lo é vencer o anterior. Acredito que superar nada mais é do que estar apto a seguir em frente: só podemos transpôr um obstáculo quando estamos preparados para percorrer o caminho até o próximo.

Apenas desista de algo quando perceber que tem um sonho que não é para você. Muitas vezes temos objetivos cuja realização não nos cabe. Desista apenas daquilo que é um engano. Não meça o mundo pela sua própria escala, a escala dos seus erros. Isto é, não pense que algo nunca vai dar certo porque deu errado uma vez, ou que você tenha que mudar de objetivo porque falhou no que queria. Foi só a primeira tentativa, foi só o começo. Você não deveria viver sem saber o que aconteceria se você tentasse com mais força, se fosse mais “teimoso” e persistisse mais vezes.

Não se permita viver com dúvidas...

Não desista dos seus sonhos por causa da dificuldade.

FYM

Jerônimo Martins Marana

sexta-feira, 18 de março de 2011

Palavras


 Este novo post traz uma novidade. Ele foi escrito por uma amiga que se propôs a nos dar uma contribuição, a primeira de alguém que não os idealizadores do blog. Reforçamos que quem tiver um pensamento que esteja de acordo com a proposta do blog pode enviar para o nosso e-mail, seja em forma de texto ou como sugestão de idéia a ser desenvolvida. Agradecemos a iniciativa da Mariana e pelo ótimo texto sobre palavras.

O Ilimitado

Palavras

Palavras são a expressão da alma, bem sabem os poetas. São utilizadas para dar voz aos nossos desejos e necessidades. O ser humano assim como qualquer outro ser tem a necessidade de se comunicar perante o mundo que o cerca. Seja para compartilhar um sentimento, seja para trabalhar, para estudar ou até mesmo para perguntar o que tem para o jantar. Ao longo da vida podemos utilizar as palavras para expressar desde as necessidades mais básicas de sobrevivência até questionar os mistérios do universo e suas possíveis 11 dimensões.

Ainda quando bebês, sem o recurso das complexas palavras, utilizamos sons próprios para expressar nosso desejo. Se estamos nos sentindo mal... Choramos. Se queremos comida... Choramos. Se queremos o colo da mãe... Choramos. Apesar do repertório não variar muito, a mãe entende cada choro como único, um gu-gu-da-da pode ser um complexo: “Mamãe quero aquele brinquedo ali...”. A mãe entende porque ali existe uma infinita ligação que não necessita de palavras extensas para se fazer entender. O bebê expressa em 100% os seus desejos e necessidades mais vitais e básicas, pois depende em 100% da mãe para sua sobrevivência e seu crescimento. A mãe do outro lado compreende a sua importância e se empenha em 100% para entender e suprir estas necessidades. Uma comunicação perfeita, pois os dois lados se esforçam para se entender.

Com o avanço da idade, deixamos de ter simples necessidades básicas e passamos a necessitar de uma interação maior com as pessoas a nossa volta. Ainda criança, começamos a perceber que certas palavras podem nos ajudar a fazer novas amizades ou a nos deixar de castigo por um bom tempo. Mas até este ponto o mundo parece muito simples e divertido, até que a chamada adolescência começa a nos impor outras perspectivas.

As pessoas a que temos contato não são mais somente de nossa família ou de amigos próximos. Nossa rede de relacionamentos começa a aumentar e com ela os mais diversos tipos de pessoas começam a aparecer. Antigos padrões de comunicação ou comportamento já não servem mais. Mudamos, crescemos e a vontade de explorar a vida começa a aflorar. Queremos ter muitas amizades e para conhecer novas pessoas precisamos utilizar as palavras, compartilhar nossos pensamentos, mesmo que o assunto da rodinha de amigas seja “Noooossa! Olha que linda a blusa nova da Thais.” ou ainda “Vocês viram com quem a Cibele está saindo?”. Sua mãe já parece não te compreender nem em 50% e seu mundo parece que vai acabar por que a internet caiu bem no meio de uma conversa com sua amiga sobre os preparativos para a festa do ano. Nesta época os sentimentos são muitos e variados, parecendo uma montanha russa com seus altos e baixos. E como se não bastasse isso, surge em sua vida aquela pessoa que te faz perder as palavras. E o caos está formado. Aquele frio na barriga já não te deixa nem pensar direito, quanto mais encontrar as palavras.

Quando adultos, nos deparamos com novos desafios de comunicação. Nessa época passamos a ter não somente amigos, mas um “networking” – uma rede de relacionamentos. Temos contato com pessoas de todos os estilos, classes, regiões e cada uma com sua história e sua forma de entender a vida. Devemos então aprender a “domar” determinadas palavras e saber a hora e a forma certa de abordar determinados assuntos.  

Pensando nessa linha do tempo podemos aprofundar mais a questão e nos perguntar: Qual a influencia das palavras sobre nossas vidas? Por que são tão necessárias? Talvez sejam tão necessárias porque representam a ponta de um iceberg de sentimentos. Representam parte daquilo que somos e que mostramos para o mundo. Por detrás delas existe uma infinita rede de comunicação acontecendo dentro e fora do Ser e as palavras passam a ser uma pequena representação do todo.

Por representar todo um sistema complexo do sentimento de uma pessoa, podemos dizer que as palavras possuem poder. Se uma palavra que não foi bem dita pode atingir como uma pedra os sentimentos da outra pessoa, talvez a falta dela represente um castigo muito maior, a ausência de sentimentos. Ou então, se não a ausência, a indiferença. Porém, paradoxalmente, a ausência de palavras também pode representar uma pausa. Um momento para meditar e pensar qual palavra irá representar da melhor forma aquilo que queremos dizer. Como saber qual das duas opções o vazio de palavras representa? Não sabemos. Somente aquele que está prestes a dizê-las saberá. Ou às vezes também não sabe.

Muitos podem ser os motivos da confusão e da revolução dos neurônios na hora de proferir uma palavra. A pessoa pode estar carregada de sentimentos antigos, mágoas do passado, pesadas demais para serem carregadas, mas ao mesmo tempo pesadas demais para serem colocadas para fora. A palavra que é engolida à força se torna um veneno para o corpo. Assim como a máxima: ”Somos aquilo que comemos”, as palavras podem nos fornecer energia ou nos arrancá-la, já que puxam com elas a força e a energia daquele sentimento. Comparativamente, a palavra seria como um pequeno burrico puxando uma dúzia de elefantes empilhados em sua carriola de madeira, os sentimentos.

A palavra representa aquilo que somos, sentimos e buscamos. Nesse sentido, pensando no casamento, por exemplo, uma palavra pode representar um comprometimento que queremos assumir por toda vida. O “Sim” dito no altar tem sua força e seu significado. É a verdadeira aliança do casal. Mas qual o valor desta palavra se for vazia de sentimentos? E podemos ir além já que todo o simbolismo que este momento envolve é muito lindo e válido desde que seja verdadeiro a cada palavra dita.

Enfim, a palavra é um pedaço do Ser, da mente tentando se expressar. Ela é muito mais do que a simples ordenação de letras, pois também está presente no olhar, no gesto discreto, no sorriso sem jeito. Tudo isso são palavras. Se a mente for “dura” e inflexível, assim serão suas palavras. Portanto, trabalhe sua mente para que ela saiba expressar seus verdadeiros sentimentos, mas para que também não se esqueça de escutar.  

Mariana T. Romon

FYM

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

"Parábola oriental" e "Só de passagem"


Em diversas leituras e situações nos deparamos com algumas historinhas, parábolas, anedotas, etc., que achamos interessantes e nos fazem refletir, então resolvemos começar a agrupá-las aqui. Vamos começar com duas e aos poucos adicionaremos muitas outras.

Parábola oriental

Conta uma popular lenda do Oriente que um jovem chegou à beira de um oásis junto a um povoado e aproximando-se de um velho perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoa vive neste lugar?
- Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem? - perguntou, por sua vez, o ancião.
- Oh, um grupo de egoístas e malvados - replicou o rapaz - estou satisfeito de haver saído de lá.
A isso o velho replicou:
- A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui.
No mesmo dia, outro jovem se acercou do oásis para beber água e, vendo o ancião, perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoa vive por aqui?
O velho respondeu com a mesma pergunta:
- Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?
O rapaz respondeu:
- Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter de deixá-las.
- O mesmo encontrará por aqui - respondeu o ancião.
Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho:
- Como é possível dar respostas tão diferentes a mesma pergunta?
Ao que o velho respondeu:
- Cada um carrega no seu coração o meio em que vive.

Só de passagem

Um homem foi visitar um sábio monge.
Ficou, no entanto, surpreso ao ver que o sábio morava numa simples cabana, com muitos livros, mas poucos móveis: uma cama, uma pequena mesa e um banco.
- Onde estão os seus móveis? Perguntou o homem.
E o sábio, rapidamente, perguntou também:
- E onde estão os seus?
- Os meus? Surpreendeu-se o visitante. – Mas eu estou aqui só de passagem!
- Eu também. Respondeu o sábio.

“No entanto, alguns vivem como se fossem ficar aqui eternamente, e se esquecem de serem felizes.”

FYM

O Ilimitado

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Casamento

Como é que se sabe que chegou o momento de casar?

Acredito que a maioria dos sofrimentos humanos são apenas derivações do sentimento de falta de amor, do sofrimento por amor. Sem aprofundar muito na psicologia, o amor pelo genitor do sexo oposto apenas muda de forma para se transformar no amor pelo marido, esposa, namorado, namorada. Se faltar amor dos pais, futuramente poderão existir problemas na relação conjugal. Isso é explicado pelo conflito de Édipo um dos mitos gregos utilizados pela psicologia para explicar comportamentos humanos (ver nota ao final do texto). Acontece então que muito sofrimento que criamos na vida é por causa de ilusões e egocentrismo que criamos para encobrir a falta de amor. Aliás, acredito que muito sofrimento neste tipo de relação é por que as pessoas não conseguem ficar sozinhas e entram numa busca desenfreada, quase que irrefreável, por um parceiro e acabam procurando nos lugares e pessoas errados.

Existem alguns momentos nas relações que são muito marcantes, como por exemplo, a época em que os parceiros se conheceram. Muitas vezes o casal conversa relembrando aqueles dias, comentam a saudade que sentem daqueles tempos, relembram as situações e contam um ao outro sobre algum pensamento ou sensação que tinham, muitas vezes recontam o que já haviam contado, etc. A vontade era reviver aqueles maravilhosos momentos e sensações novamente, mas isso não é possível, e se não é possível é porque é necessário deixar para trás e buscar coisas novas.

Na verdade o casal sente falta das emoções do início, porque não as sente mais no presente. Infelizmente ficamos escravizados pelo passado e tentamos revivê-lo quando este foi bom e esquecê-lo quando não foi. Algumas vezes é útil pensar no passado, outras vezes é inútil e outras vezes mais do que inútil é prejudicial, mesmo que o passado tenha sido bom. Desculpe-me se causo algum espanto, é ótimo que o passado tenha sido bom, mas jogue-o fora, deixe-o para trás para que se possa buscar algo maior. Mas a relação fica sempre no mesmo patamar porque algumas situações passadas são enaltecidas e então se coloca uma barreira na mente e a sensação é de que poucas coisas que acontecerem serão melhores do que aquilo que já passou.

Outra situação em que eu penso é a data de aniversário de namoro, de casamento ou do parceiro. É uma data muitíssimo importante, então o casal não pode discutir nesse dia. Imagine a frustração de brigar justo no dia do aniversário, justo “no dia que não pode”. Quer dizer então que não sendo aniversário pode haver discórdia? Essas datas são consideradas tão importantes que esses dias não são, ou parecem não ser, vividos do mesmo jeito que os dias “normais”. Nenhum problema com a importância que se dá para essas datas, não digo que sua importância deva ser diminuída, mas sim que a importância dos outros dias seja elevada ao mesmo nível. O sol que trás o dia é sempre o mesmo, todos os dias deveriam ser igualmente especiais.

Alguns dias antes do casamento os amigos resolvem fazer aquela festinha, a despedida de solteiro. Se analisarmos bem, veremos que na despedida de solteiro o sujeito já não é solteiro há muito tempo, por que então resolver se despedir agora? Imagine o problema que surgiria se um dos parceiros não tivesse a despedida de solteiro antes do casamento e resolvesse fazer depois. Mas se muito antes do casamento os dois já não eram mais solteiros, então no fundo, qual a diferença entre fazer antes ou depois do casamento? Então se depois do casamento é prejudicial, porque antes não seria? De qualquer forma as pessoas aceitam, se for antes. O discurso que eu ouço sobre essas despedidas é que depois do casamento não se pode mais fazer essas coisas que se faz na festinha, portanto tem que comemorar já que é a última vez. Parece-me, infelizmente, que essas pessoas sentem mais falta da solteirice do que alegria pelo casamento, porque por mais importante que este seja considerado vejo que muita gente se sente limitada por ele, mas isso acontece porque o passado ainda é muito forte e elas não foram capazes de avançar um passo. Nesse parágrafo estou excluindo as despedidas de solteiro “sadias”, que nem deveriam ter esse nome.

O dia da cerimônia matrimonial é o marco de uma transição, onde o casal deixa para trás o namoro e a casa dos pais para agora viver em seu próprio lar. Isso nada mais é do que morar junto. O verdadeiro casamento não é uma cerimônia, não é morar junto, portanto não é uma coisa externa, mas sim um sentimento de união e de família, o verdadeiro casamento está no coração, acontece dentro de cada um, sem tempo definido, e não porque o padre disse, não porque a cerimônia foi realizada. Tendo isso, por pelo menos uma das partes, então morar junto é estar casado. Por esse motivo nem sempre as duas pessoas se casam no mesmo dia, às vezes o casamento chega primeiro para um enquanto que para o outro muito tempo depois, talvez anos.

Existe um momento da missa em que o padre diz “o que Deus uniu o homem não separa”, mas quem disse que o padre sabe se Deus realmente uniu esse casal? Muitas vezes nem o próprio casal sabe, tanto que muitos casamentos acabam em divórcio. Será que Ele teria unido duas pessoas num casamento que de forma alguma daria certo? Não diria que sim e também não diria que não, pois nem sempre o divórcio é por falta de amor, isso depende exclusivamente do casal, eles podem se amar e não se aguentar. Vejo divorciados que na realidade nunca se separaram, ao mesmo tempo em que vejo muitas pessoas casadas há anos e que no fundo nunca se casaram de verdade.

Retomando a pergunta inicial, como é que se sabe que chegou o momento de se casar? Acredito que isso não seja uma coisa difícil. Na verdade essa pergunta não precisa existir, pois quando o casal toma a decisão com sinceridade, com certeza o verdadeiro casamento já aconteceu, por isso a cerimônia, a data e os documentos são apenas simbólicos. É como quando você ama a pessoa: não existe um dia para começar a amar, não existe tal coisa como “a partir de hoje eu amo”, então acredito que não existe um dia a partir do qual se esteja casado, mas sim que o casamento seja uma transição sutil que ocorre dentro do coração. Do mesmo modo, a aliança também é um símbolo. Nunca se deve esquecer que a verdadeira aliança, o real compromisso, é uma coisa de coração para coração, e o anel de aliança não significa, necessariamente, companheirismo e fidelidade, isso todos nós sabemos.

Infelizmente, por falta de autoconhecimento às vezes o casamento é precipitado ou mesmo um grande erro, porém, muitas vezes sem a cerimônia matrimonial ou a certidão do cartório, ou até mesmo jovem de mais para deixar a casa dos pais, ele já é uma coisa concreta para o casal.

Não sou de forma alguma contra o casamento, pelo contrário, afinal nenhum Buda brotou em árvore, mas se for feito, que seja direito, afinal se queremos o fim do sofrimento devemos cortar o mal pela raiz, porque “quando a sinceridade é limitada não há sinceridade alguma (frase adaptada de Lao Tsé)”, mas isso é tema para outro dia...

FYM

Jerônimo Martins Marana

Nota: O conflito de Édipo, que é uma teoria do psicanalista Sigmund Freud, surge num período chamado edipiano que vai dos três aos seis ou sete anos de idade. O conflito resulta da inibição do desejo natural da criança de ficar com o genitor do sexo oposto por causa de uma disputa inconsciente entre a criança e o genitor do mesmo sexo (exemplo: a filha e a mãe disputam a atenção, a companhia, o amor do pai). Porém, por causa do período edipiano, o indivíduo, se for homem, naturalmente procura por uma mulher que tenha características de sua mãe, e a mulher procura por um homem que tenha características do seu pai. É natural e bonito, em minha opinião, desejar para ficar do seu lado pelo resto da vida uma pessoa que representa aquela que cuidou de você na infância.