sexta-feira, 18 de março de 2011

Palavras


 Este novo post traz uma novidade. Ele foi escrito por uma amiga que se propôs a nos dar uma contribuição, a primeira de alguém que não os idealizadores do blog. Reforçamos que quem tiver um pensamento que esteja de acordo com a proposta do blog pode enviar para o nosso e-mail, seja em forma de texto ou como sugestão de idéia a ser desenvolvida. Agradecemos a iniciativa da Mariana e pelo ótimo texto sobre palavras.

O Ilimitado

Palavras

Palavras são a expressão da alma, bem sabem os poetas. São utilizadas para dar voz aos nossos desejos e necessidades. O ser humano assim como qualquer outro ser tem a necessidade de se comunicar perante o mundo que o cerca. Seja para compartilhar um sentimento, seja para trabalhar, para estudar ou até mesmo para perguntar o que tem para o jantar. Ao longo da vida podemos utilizar as palavras para expressar desde as necessidades mais básicas de sobrevivência até questionar os mistérios do universo e suas possíveis 11 dimensões.

Ainda quando bebês, sem o recurso das complexas palavras, utilizamos sons próprios para expressar nosso desejo. Se estamos nos sentindo mal... Choramos. Se queremos comida... Choramos. Se queremos o colo da mãe... Choramos. Apesar do repertório não variar muito, a mãe entende cada choro como único, um gu-gu-da-da pode ser um complexo: “Mamãe quero aquele brinquedo ali...”. A mãe entende porque ali existe uma infinita ligação que não necessita de palavras extensas para se fazer entender. O bebê expressa em 100% os seus desejos e necessidades mais vitais e básicas, pois depende em 100% da mãe para sua sobrevivência e seu crescimento. A mãe do outro lado compreende a sua importância e se empenha em 100% para entender e suprir estas necessidades. Uma comunicação perfeita, pois os dois lados se esforçam para se entender.

Com o avanço da idade, deixamos de ter simples necessidades básicas e passamos a necessitar de uma interação maior com as pessoas a nossa volta. Ainda criança, começamos a perceber que certas palavras podem nos ajudar a fazer novas amizades ou a nos deixar de castigo por um bom tempo. Mas até este ponto o mundo parece muito simples e divertido, até que a chamada adolescência começa a nos impor outras perspectivas.

As pessoas a que temos contato não são mais somente de nossa família ou de amigos próximos. Nossa rede de relacionamentos começa a aumentar e com ela os mais diversos tipos de pessoas começam a aparecer. Antigos padrões de comunicação ou comportamento já não servem mais. Mudamos, crescemos e a vontade de explorar a vida começa a aflorar. Queremos ter muitas amizades e para conhecer novas pessoas precisamos utilizar as palavras, compartilhar nossos pensamentos, mesmo que o assunto da rodinha de amigas seja “Noooossa! Olha que linda a blusa nova da Thais.” ou ainda “Vocês viram com quem a Cibele está saindo?”. Sua mãe já parece não te compreender nem em 50% e seu mundo parece que vai acabar por que a internet caiu bem no meio de uma conversa com sua amiga sobre os preparativos para a festa do ano. Nesta época os sentimentos são muitos e variados, parecendo uma montanha russa com seus altos e baixos. E como se não bastasse isso, surge em sua vida aquela pessoa que te faz perder as palavras. E o caos está formado. Aquele frio na barriga já não te deixa nem pensar direito, quanto mais encontrar as palavras.

Quando adultos, nos deparamos com novos desafios de comunicação. Nessa época passamos a ter não somente amigos, mas um “networking” – uma rede de relacionamentos. Temos contato com pessoas de todos os estilos, classes, regiões e cada uma com sua história e sua forma de entender a vida. Devemos então aprender a “domar” determinadas palavras e saber a hora e a forma certa de abordar determinados assuntos.  

Pensando nessa linha do tempo podemos aprofundar mais a questão e nos perguntar: Qual a influencia das palavras sobre nossas vidas? Por que são tão necessárias? Talvez sejam tão necessárias porque representam a ponta de um iceberg de sentimentos. Representam parte daquilo que somos e que mostramos para o mundo. Por detrás delas existe uma infinita rede de comunicação acontecendo dentro e fora do Ser e as palavras passam a ser uma pequena representação do todo.

Por representar todo um sistema complexo do sentimento de uma pessoa, podemos dizer que as palavras possuem poder. Se uma palavra que não foi bem dita pode atingir como uma pedra os sentimentos da outra pessoa, talvez a falta dela represente um castigo muito maior, a ausência de sentimentos. Ou então, se não a ausência, a indiferença. Porém, paradoxalmente, a ausência de palavras também pode representar uma pausa. Um momento para meditar e pensar qual palavra irá representar da melhor forma aquilo que queremos dizer. Como saber qual das duas opções o vazio de palavras representa? Não sabemos. Somente aquele que está prestes a dizê-las saberá. Ou às vezes também não sabe.

Muitos podem ser os motivos da confusão e da revolução dos neurônios na hora de proferir uma palavra. A pessoa pode estar carregada de sentimentos antigos, mágoas do passado, pesadas demais para serem carregadas, mas ao mesmo tempo pesadas demais para serem colocadas para fora. A palavra que é engolida à força se torna um veneno para o corpo. Assim como a máxima: ”Somos aquilo que comemos”, as palavras podem nos fornecer energia ou nos arrancá-la, já que puxam com elas a força e a energia daquele sentimento. Comparativamente, a palavra seria como um pequeno burrico puxando uma dúzia de elefantes empilhados em sua carriola de madeira, os sentimentos.

A palavra representa aquilo que somos, sentimos e buscamos. Nesse sentido, pensando no casamento, por exemplo, uma palavra pode representar um comprometimento que queremos assumir por toda vida. O “Sim” dito no altar tem sua força e seu significado. É a verdadeira aliança do casal. Mas qual o valor desta palavra se for vazia de sentimentos? E podemos ir além já que todo o simbolismo que este momento envolve é muito lindo e válido desde que seja verdadeiro a cada palavra dita.

Enfim, a palavra é um pedaço do Ser, da mente tentando se expressar. Ela é muito mais do que a simples ordenação de letras, pois também está presente no olhar, no gesto discreto, no sorriso sem jeito. Tudo isso são palavras. Se a mente for “dura” e inflexível, assim serão suas palavras. Portanto, trabalhe sua mente para que ela saiba expressar seus verdadeiros sentimentos, mas para que também não se esqueça de escutar.  

Mariana T. Romon

FYM