quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A arte de simplesmente ser

Há muito tempo estou querendo escrever este texto. Acho que finalmente chegou o momento. O motivo de querer falar sobre isso é que estamos sempre tentando ser melhores e obtendo pouco sucesso.
Estamos sempre querendo surpreender, ser pessoas de destaque, exemplos de sucesso, o melhor namorado, namorada, marido, esposa, pai, mãe, empregado, atleta, aluno, professor, cozinheiro, o mais querido da turma, uma pessoa inesquecível… Nós vivemos a vida tentando se destacar e lutando para sermos lembrados. Queremos ser o melhor ser humano que todos ao nosso redor já conheceram.
Nunca, em hipótese alguma, queremos ser esquecidos. Não queremos ser deixados para trás, não que nossos amigos fiquem bravos com a gente, não queremos errar e quando erramos e somos criticados como consequência nos sentimos injustiçados e ficamos com raiva do mundo porque não fomos perdoados ou porque achamos que estamos certos e temos o direito de se revoltar contra quem nos fez algum mal.
Já vi muitas pessoas dizerem que quando tiverem filhos farão com que seus filhos façam tal e tal coisa, como se fossem eles mesmos. Querem ensinar aos filhos seus comportamentos egoístas e se mostram orgulhosos disso. Estas pessoas querem criar seus filhos para serem uma miniatura de si mesmos para que possam sentir orgulho quando ouvirem que “ele é igualzinho ao pai”.
Tudo isso constitui uma tentativa de imortalizar a própria imagem, para quando abandonarem o mundo deixarem a sua marca ou até mesmo um sucessor para que nunca sejam esquecidos por quem ficou, como se o que acontece no mundo tivesse alguma importância para quem já morreu. É uma forma de egoísmo que me parece piada, pois o morto não vai nem estar presente para ver as pessoas lhe adorando e, mesmo que esteja sob uma forma invisível, não vai haver nenhum bajulador o enxergando. Quem já morreu não existe para o mundo e o mundo não existe para quem já morreu.
Em meio a todas essas tentativas frustradas de atingir a perfeição eu olho para a minha gata. Ela simplesmente não faz nada, só é gata. Fico imaginando se ela tentasse ser uma gata melhor do que os outros gatos. Seria uma chata tentando chamar atenção a todo custo e pedindo todos os holofotes para si. Ela simplesmente não está nem aí para quem ela é, que tipo de gata ela é, qual a cor, o que as pessoas pensam dela. Ela só é aquilo que a natureza lhe fez: gata, e nem pra isso ela liga. Ela não se importa com o que ela é ou não é, se ela é gata ou se é outra coisa, mas em vez de perder tempo com isso ela simplesmente é! E simplesmente sendo ela possui graça em tudo o que faz, me fazendo sorrir e sendo especial sem nenhuma intenção.

FYM


Jerônimo Martins Marana