sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

"Parábola oriental" e "Só de passagem"


Em diversas leituras e situações nos deparamos com algumas historinhas, parábolas, anedotas, etc., que achamos interessantes e nos fazem refletir, então resolvemos começar a agrupá-las aqui. Vamos começar com duas e aos poucos adicionaremos muitas outras.

Parábola oriental

Conta uma popular lenda do Oriente que um jovem chegou à beira de um oásis junto a um povoado e aproximando-se de um velho perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoa vive neste lugar?
- Que tipo de pessoa vivia no lugar de onde você vem? - perguntou, por sua vez, o ancião.
- Oh, um grupo de egoístas e malvados - replicou o rapaz - estou satisfeito de haver saído de lá.
A isso o velho replicou:
- A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui.
No mesmo dia, outro jovem se acercou do oásis para beber água e, vendo o ancião, perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoa vive por aqui?
O velho respondeu com a mesma pergunta:
- Que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?
O rapaz respondeu:
- Um magnífico grupo de pessoas, amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter de deixá-las.
- O mesmo encontrará por aqui - respondeu o ancião.
Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho:
- Como é possível dar respostas tão diferentes a mesma pergunta?
Ao que o velho respondeu:
- Cada um carrega no seu coração o meio em que vive.

Só de passagem

Um homem foi visitar um sábio monge.
Ficou, no entanto, surpreso ao ver que o sábio morava numa simples cabana, com muitos livros, mas poucos móveis: uma cama, uma pequena mesa e um banco.
- Onde estão os seus móveis? Perguntou o homem.
E o sábio, rapidamente, perguntou também:
- E onde estão os seus?
- Os meus? Surpreendeu-se o visitante. – Mas eu estou aqui só de passagem!
- Eu também. Respondeu o sábio.

“No entanto, alguns vivem como se fossem ficar aqui eternamente, e se esquecem de serem felizes.”

FYM

O Ilimitado

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Casamento

Como é que se sabe que chegou o momento de casar?

Acredito que a maioria dos sofrimentos humanos são apenas derivações do sentimento de falta de amor, do sofrimento por amor. Sem aprofundar muito na psicologia, o amor pelo genitor do sexo oposto apenas muda de forma para se transformar no amor pelo marido, esposa, namorado, namorada. Se faltar amor dos pais, futuramente poderão existir problemas na relação conjugal. Isso é explicado pelo conflito de Édipo um dos mitos gregos utilizados pela psicologia para explicar comportamentos humanos (ver nota ao final do texto). Acontece então que muito sofrimento que criamos na vida é por causa de ilusões e egocentrismo que criamos para encobrir a falta de amor. Aliás, acredito que muito sofrimento neste tipo de relação é por que as pessoas não conseguem ficar sozinhas e entram numa busca desenfreada, quase que irrefreável, por um parceiro e acabam procurando nos lugares e pessoas errados.

Existem alguns momentos nas relações que são muito marcantes, como por exemplo, a época em que os parceiros se conheceram. Muitas vezes o casal conversa relembrando aqueles dias, comentam a saudade que sentem daqueles tempos, relembram as situações e contam um ao outro sobre algum pensamento ou sensação que tinham, muitas vezes recontam o que já haviam contado, etc. A vontade era reviver aqueles maravilhosos momentos e sensações novamente, mas isso não é possível, e se não é possível é porque é necessário deixar para trás e buscar coisas novas.

Na verdade o casal sente falta das emoções do início, porque não as sente mais no presente. Infelizmente ficamos escravizados pelo passado e tentamos revivê-lo quando este foi bom e esquecê-lo quando não foi. Algumas vezes é útil pensar no passado, outras vezes é inútil e outras vezes mais do que inútil é prejudicial, mesmo que o passado tenha sido bom. Desculpe-me se causo algum espanto, é ótimo que o passado tenha sido bom, mas jogue-o fora, deixe-o para trás para que se possa buscar algo maior. Mas a relação fica sempre no mesmo patamar porque algumas situações passadas são enaltecidas e então se coloca uma barreira na mente e a sensação é de que poucas coisas que acontecerem serão melhores do que aquilo que já passou.

Outra situação em que eu penso é a data de aniversário de namoro, de casamento ou do parceiro. É uma data muitíssimo importante, então o casal não pode discutir nesse dia. Imagine a frustração de brigar justo no dia do aniversário, justo “no dia que não pode”. Quer dizer então que não sendo aniversário pode haver discórdia? Essas datas são consideradas tão importantes que esses dias não são, ou parecem não ser, vividos do mesmo jeito que os dias “normais”. Nenhum problema com a importância que se dá para essas datas, não digo que sua importância deva ser diminuída, mas sim que a importância dos outros dias seja elevada ao mesmo nível. O sol que trás o dia é sempre o mesmo, todos os dias deveriam ser igualmente especiais.

Alguns dias antes do casamento os amigos resolvem fazer aquela festinha, a despedida de solteiro. Se analisarmos bem, veremos que na despedida de solteiro o sujeito já não é solteiro há muito tempo, por que então resolver se despedir agora? Imagine o problema que surgiria se um dos parceiros não tivesse a despedida de solteiro antes do casamento e resolvesse fazer depois. Mas se muito antes do casamento os dois já não eram mais solteiros, então no fundo, qual a diferença entre fazer antes ou depois do casamento? Então se depois do casamento é prejudicial, porque antes não seria? De qualquer forma as pessoas aceitam, se for antes. O discurso que eu ouço sobre essas despedidas é que depois do casamento não se pode mais fazer essas coisas que se faz na festinha, portanto tem que comemorar já que é a última vez. Parece-me, infelizmente, que essas pessoas sentem mais falta da solteirice do que alegria pelo casamento, porque por mais importante que este seja considerado vejo que muita gente se sente limitada por ele, mas isso acontece porque o passado ainda é muito forte e elas não foram capazes de avançar um passo. Nesse parágrafo estou excluindo as despedidas de solteiro “sadias”, que nem deveriam ter esse nome.

O dia da cerimônia matrimonial é o marco de uma transição, onde o casal deixa para trás o namoro e a casa dos pais para agora viver em seu próprio lar. Isso nada mais é do que morar junto. O verdadeiro casamento não é uma cerimônia, não é morar junto, portanto não é uma coisa externa, mas sim um sentimento de união e de família, o verdadeiro casamento está no coração, acontece dentro de cada um, sem tempo definido, e não porque o padre disse, não porque a cerimônia foi realizada. Tendo isso, por pelo menos uma das partes, então morar junto é estar casado. Por esse motivo nem sempre as duas pessoas se casam no mesmo dia, às vezes o casamento chega primeiro para um enquanto que para o outro muito tempo depois, talvez anos.

Existe um momento da missa em que o padre diz “o que Deus uniu o homem não separa”, mas quem disse que o padre sabe se Deus realmente uniu esse casal? Muitas vezes nem o próprio casal sabe, tanto que muitos casamentos acabam em divórcio. Será que Ele teria unido duas pessoas num casamento que de forma alguma daria certo? Não diria que sim e também não diria que não, pois nem sempre o divórcio é por falta de amor, isso depende exclusivamente do casal, eles podem se amar e não se aguentar. Vejo divorciados que na realidade nunca se separaram, ao mesmo tempo em que vejo muitas pessoas casadas há anos e que no fundo nunca se casaram de verdade.

Retomando a pergunta inicial, como é que se sabe que chegou o momento de se casar? Acredito que isso não seja uma coisa difícil. Na verdade essa pergunta não precisa existir, pois quando o casal toma a decisão com sinceridade, com certeza o verdadeiro casamento já aconteceu, por isso a cerimônia, a data e os documentos são apenas simbólicos. É como quando você ama a pessoa: não existe um dia para começar a amar, não existe tal coisa como “a partir de hoje eu amo”, então acredito que não existe um dia a partir do qual se esteja casado, mas sim que o casamento seja uma transição sutil que ocorre dentro do coração. Do mesmo modo, a aliança também é um símbolo. Nunca se deve esquecer que a verdadeira aliança, o real compromisso, é uma coisa de coração para coração, e o anel de aliança não significa, necessariamente, companheirismo e fidelidade, isso todos nós sabemos.

Infelizmente, por falta de autoconhecimento às vezes o casamento é precipitado ou mesmo um grande erro, porém, muitas vezes sem a cerimônia matrimonial ou a certidão do cartório, ou até mesmo jovem de mais para deixar a casa dos pais, ele já é uma coisa concreta para o casal.

Não sou de forma alguma contra o casamento, pelo contrário, afinal nenhum Buda brotou em árvore, mas se for feito, que seja direito, afinal se queremos o fim do sofrimento devemos cortar o mal pela raiz, porque “quando a sinceridade é limitada não há sinceridade alguma (frase adaptada de Lao Tsé)”, mas isso é tema para outro dia...

FYM

Jerônimo Martins Marana

Nota: O conflito de Édipo, que é uma teoria do psicanalista Sigmund Freud, surge num período chamado edipiano que vai dos três aos seis ou sete anos de idade. O conflito resulta da inibição do desejo natural da criança de ficar com o genitor do sexo oposto por causa de uma disputa inconsciente entre a criança e o genitor do mesmo sexo (exemplo: a filha e a mãe disputam a atenção, a companhia, o amor do pai). Porém, por causa do período edipiano, o indivíduo, se for homem, naturalmente procura por uma mulher que tenha características de sua mãe, e a mulher procura por um homem que tenha características do seu pai. É natural e bonito, em minha opinião, desejar para ficar do seu lado pelo resto da vida uma pessoa que representa aquela que cuidou de você na infância.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Flexibilidade da mente – alongue-se contra seu ego

Tomarei como objeto de estudo nesse post a nossa mente. Na verdade já falei sobre essa idéia com algumas pessoas e já até escrevi algo a respeito em uma discussão política em um grupo de e-mails.

No último post o Jerônimo fez uma comparação entre nossa mente e o computador. Seguindo mais ou menos a mesma linha, nesse texto farei uma comparação entre a nossa mente e o nosso corpo.

Quando nascemos, nossos músculos, ainda pouco desenvolvidos, são flexíveis, “moles” e, portanto, possui certo alongamento natural. Podemos comparar os nossos músculos com a nossa mente, que ainda pouco desenvolvida possui uma grande flexibilidade, ou seja, a capacidade de se “esticar” para novos conhecimentos e aprendizados. A analogia pode parecer meio estranha. Mas acredito que ela possa ilustrar melhor o meu pensamento a respeito da nossa constituição mental.

Não quero aqui entrar em detalhes biológicos sobre os nossos músculos, tendões e articulações para fazer a comparação, mesmo sabendo que ainda sim seria uma boa analogia, mas somente em aspectos mais gerais do corpo.

Ao longo de nossas vidas temos dois caminhos a escolher para o nosso desenvolvimento pessoal, ou treinamos o nosso alongamento e seremos por toda a vida flexíveis, ou não praticamos e perdemos a nossa flexibilidade tornando cada vez mais difícil de se obter um bom alongamento. Nosso corpo, ao se desenvolver consolida a formação óssea, articular, muscular, etc. e com isso nossa flexibilidade que era bastante desenvolvida quando bebê sofre uma mudança, tornando os músculos mais firmes e perdendo a sua capacidade de alongamento. Nossa mente também passa por esse processo. No começo ela é “vazia” e vamos aos poucos absorvendo aquilo que nossos sentidos captam e ao passar dos anos vamos consolidando nosso pensamento, selecionando o que captamos, diminuindo a abertura para o conhecimento externo. Portanto, no começo esse processo ocorre de forma "natural", pois é natural nascer com o corpo flexível e com a mente "vazia". A partir de então, cabe a nós continuarmos a desenvolver a nossa flexibilidade e é aí que entra os dois caminhos e a escolha supracitada.

*Importante: diferencio aqui a mente da consciência que a meu ver são coisas distintas, considerando a primeira um instrumento da segunda. Mas esse é um assunto para um outro post. Quem tiver curiosidade acerca dessa distinção procure em autores como Eckhart Tolle e Samael Aun Weor.

Na medida em que crescemos nossa musculatura vai se consolidando e nossos ideais, concepções, moral, conhecimento também. Você pode desenvolver seu alongamento por toda sua vida e mesmo que a idade te ofereça alguma dificuldade você será sempre flexível. Posso citar como exemplo um mestre de kung fu que certa vez conheci. Com quase 70 anos de idade tinha uma capacidade de alongamento incrível, fruto de sua prática constante.  A mente funciona da mesma forma. Se você desenvolver seu alongamento, ou seja, elevar sua capacidade de aprendizado, manter sua mente sempre aberta a novas possibilidades, novos conhecimentos, novas filosofias tendo a humildade de aceitar opiniões divergentes e novas idéias, você será sempre flexível, mesmo que a idade lhe ofereça dificuldades (as convicções, o domínio do ego, a prepotência e a arrogância), conseguirá superá-las e continuará aprendendo até seus últimos momentos na Terra. Ou seja, a flexibilidade da sua mente consiste em aceitar que estamos constantemente aprendendo, com tudo e com todos, a todo tempo.

A falta de prática torna a capacidade de desenvolvimento cada vez mais limitada com o passar do tempo. Quando você deixa de treinar seu alongamento a capacidade de se “esticar” dos seus músculos fica limitada. Ao envelhecer, os músculos vão se enrijecendo e a dificuldade de se tornar flexível vai aumentando cada vez mais. A sua mente, com o passar dos anos vai absorvendo diferentes conhecimentos e o seu ego vai se consolidando. Se você não pratica a sua flexibilidade mental, o seu ego cresce e a capacidade de aprender diminui. O domínio do ego sobre a mente se dá de forma gradual e nos tornamos mais convictos que aquilo que aprendemos é absoluto e definitivo, perdemos a paciência e deixamos de ouvir, de se abrir para novas idéias, pois acreditamos que já sabemos o suficiente e dessa forma o ego toma o controle da mente fazendo-nos acreditar que ele próprio é o nosso verdadeiro eu, a nossa consciência.

Nossa mente é um instrumento, assim como o nosso corpo. Se soubermos como usá-los podemos desenvolvê-los de maneira tão impressionante que até desconhecemos seu real potencial. Porém, existem obstáculos para isso e na maioria das vezes eles são impostos por nós mesmos. A falta de prática afeta de forma gradual e negativa no desenvolvimento da sua capacidade de se alongar. Para nossa mente o principal obstáculo é o nosso ego. É ele que faz o nosso cérebro “endurecer” e ir perdendo o sua “flexibilidade”. O ego nos prende a vícios, a sentimentos prejudiciais, nos prende ao passado e ao futuro evitando que percebamos aquilo que realmente estamos vivendo, que é o agora. O ego “endurece” nossa mente porque nos faz acreditar que somos inteligentes demais, que nossas convicções são invariavelmente corretas, ou que somos incapazes disso, ou daquilo. O ego é conservador, é arrogante, mas é também pessimista, individualista e possui diversas personalidades. O ego nos consome, nos esgota. Ao sermos dominados por ele nossa mente deixa de ser um instrumento útil e se transforma em um instrumento prejudicial. Se você, o seu verdadeiro eu, não assumir o controle de si, o ego o fará e sua mente se tornará cada vez menos flexível.

Portanto, é necessário praticar o “alongamento mental” sempre, assim como devemos praticar o alongamento corporal. E de que forma? A melhor forma de desenvolver sua flexibilidade mental é através do autoconhecimento, do domínio de seus defeitos e virtudes. A tendência natural de nossa mente é mecanizar os pensamentos para diminuir o esforço de pensar. Se mecanizamos pensamentos negativos continuamos automaticamente pensando de forma negativa. Assim como quando realizamos sempre um mesmo movimento corporal. A memória muscular fará com que você realize sempre o mesmo movimento errado mecanicamente. A única forma de mudar isso é estando consciente, presente e sendo observador de si (observando os seus próprios atos, entendendo a maneira como sua mente funciona). Somente assim você estará aberto para toda forma de conhecimento. A prática constante do autoconhecimento e auto observação lhe permitirá uma mente sempre flexível. O autoconhecimento funciona como os exercícios de alongamento muscular, se não praticarmos enrijecemos nossa mente e deixamos de evoluir.


FYM

Alexandre Hernandes