sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Flexibilidade da mente – alongue-se contra seu ego

Tomarei como objeto de estudo nesse post a nossa mente. Na verdade já falei sobre essa idéia com algumas pessoas e já até escrevi algo a respeito em uma discussão política em um grupo de e-mails.

No último post o Jerônimo fez uma comparação entre nossa mente e o computador. Seguindo mais ou menos a mesma linha, nesse texto farei uma comparação entre a nossa mente e o nosso corpo.

Quando nascemos, nossos músculos, ainda pouco desenvolvidos, são flexíveis, “moles” e, portanto, possui certo alongamento natural. Podemos comparar os nossos músculos com a nossa mente, que ainda pouco desenvolvida possui uma grande flexibilidade, ou seja, a capacidade de se “esticar” para novos conhecimentos e aprendizados. A analogia pode parecer meio estranha. Mas acredito que ela possa ilustrar melhor o meu pensamento a respeito da nossa constituição mental.

Não quero aqui entrar em detalhes biológicos sobre os nossos músculos, tendões e articulações para fazer a comparação, mesmo sabendo que ainda sim seria uma boa analogia, mas somente em aspectos mais gerais do corpo.

Ao longo de nossas vidas temos dois caminhos a escolher para o nosso desenvolvimento pessoal, ou treinamos o nosso alongamento e seremos por toda a vida flexíveis, ou não praticamos e perdemos a nossa flexibilidade tornando cada vez mais difícil de se obter um bom alongamento. Nosso corpo, ao se desenvolver consolida a formação óssea, articular, muscular, etc. e com isso nossa flexibilidade que era bastante desenvolvida quando bebê sofre uma mudança, tornando os músculos mais firmes e perdendo a sua capacidade de alongamento. Nossa mente também passa por esse processo. No começo ela é “vazia” e vamos aos poucos absorvendo aquilo que nossos sentidos captam e ao passar dos anos vamos consolidando nosso pensamento, selecionando o que captamos, diminuindo a abertura para o conhecimento externo. Portanto, no começo esse processo ocorre de forma "natural", pois é natural nascer com o corpo flexível e com a mente "vazia". A partir de então, cabe a nós continuarmos a desenvolver a nossa flexibilidade e é aí que entra os dois caminhos e a escolha supracitada.

*Importante: diferencio aqui a mente da consciência que a meu ver são coisas distintas, considerando a primeira um instrumento da segunda. Mas esse é um assunto para um outro post. Quem tiver curiosidade acerca dessa distinção procure em autores como Eckhart Tolle e Samael Aun Weor.

Na medida em que crescemos nossa musculatura vai se consolidando e nossos ideais, concepções, moral, conhecimento também. Você pode desenvolver seu alongamento por toda sua vida e mesmo que a idade te ofereça alguma dificuldade você será sempre flexível. Posso citar como exemplo um mestre de kung fu que certa vez conheci. Com quase 70 anos de idade tinha uma capacidade de alongamento incrível, fruto de sua prática constante.  A mente funciona da mesma forma. Se você desenvolver seu alongamento, ou seja, elevar sua capacidade de aprendizado, manter sua mente sempre aberta a novas possibilidades, novos conhecimentos, novas filosofias tendo a humildade de aceitar opiniões divergentes e novas idéias, você será sempre flexível, mesmo que a idade lhe ofereça dificuldades (as convicções, o domínio do ego, a prepotência e a arrogância), conseguirá superá-las e continuará aprendendo até seus últimos momentos na Terra. Ou seja, a flexibilidade da sua mente consiste em aceitar que estamos constantemente aprendendo, com tudo e com todos, a todo tempo.

A falta de prática torna a capacidade de desenvolvimento cada vez mais limitada com o passar do tempo. Quando você deixa de treinar seu alongamento a capacidade de se “esticar” dos seus músculos fica limitada. Ao envelhecer, os músculos vão se enrijecendo e a dificuldade de se tornar flexível vai aumentando cada vez mais. A sua mente, com o passar dos anos vai absorvendo diferentes conhecimentos e o seu ego vai se consolidando. Se você não pratica a sua flexibilidade mental, o seu ego cresce e a capacidade de aprender diminui. O domínio do ego sobre a mente se dá de forma gradual e nos tornamos mais convictos que aquilo que aprendemos é absoluto e definitivo, perdemos a paciência e deixamos de ouvir, de se abrir para novas idéias, pois acreditamos que já sabemos o suficiente e dessa forma o ego toma o controle da mente fazendo-nos acreditar que ele próprio é o nosso verdadeiro eu, a nossa consciência.

Nossa mente é um instrumento, assim como o nosso corpo. Se soubermos como usá-los podemos desenvolvê-los de maneira tão impressionante que até desconhecemos seu real potencial. Porém, existem obstáculos para isso e na maioria das vezes eles são impostos por nós mesmos. A falta de prática afeta de forma gradual e negativa no desenvolvimento da sua capacidade de se alongar. Para nossa mente o principal obstáculo é o nosso ego. É ele que faz o nosso cérebro “endurecer” e ir perdendo o sua “flexibilidade”. O ego nos prende a vícios, a sentimentos prejudiciais, nos prende ao passado e ao futuro evitando que percebamos aquilo que realmente estamos vivendo, que é o agora. O ego “endurece” nossa mente porque nos faz acreditar que somos inteligentes demais, que nossas convicções são invariavelmente corretas, ou que somos incapazes disso, ou daquilo. O ego é conservador, é arrogante, mas é também pessimista, individualista e possui diversas personalidades. O ego nos consome, nos esgota. Ao sermos dominados por ele nossa mente deixa de ser um instrumento útil e se transforma em um instrumento prejudicial. Se você, o seu verdadeiro eu, não assumir o controle de si, o ego o fará e sua mente se tornará cada vez menos flexível.

Portanto, é necessário praticar o “alongamento mental” sempre, assim como devemos praticar o alongamento corporal. E de que forma? A melhor forma de desenvolver sua flexibilidade mental é através do autoconhecimento, do domínio de seus defeitos e virtudes. A tendência natural de nossa mente é mecanizar os pensamentos para diminuir o esforço de pensar. Se mecanizamos pensamentos negativos continuamos automaticamente pensando de forma negativa. Assim como quando realizamos sempre um mesmo movimento corporal. A memória muscular fará com que você realize sempre o mesmo movimento errado mecanicamente. A única forma de mudar isso é estando consciente, presente e sendo observador de si (observando os seus próprios atos, entendendo a maneira como sua mente funciona). Somente assim você estará aberto para toda forma de conhecimento. A prática constante do autoconhecimento e auto observação lhe permitirá uma mente sempre flexível. O autoconhecimento funciona como os exercícios de alongamento muscular, se não praticarmos enrijecemos nossa mente e deixamos de evoluir.


FYM

Alexandre Hernandes

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