quarta-feira, 18 de abril de 2012

O vencedor

Como havia dito em "Descubra o herói interior", neste post quero comentar a letra da música "O Vencedor" (Los Hermanos). Não sei qual era a real intenção de Marcelo Camelo ao compor esta letra, mas para mim me parece de grande sabedoria e diretamente relacionada, e por isso muito útil, aos temas deste blog.

Olha lá, quem vem do lado oposto
Vem sem gosto de viver
Olha lá, que os bravos são
Escravos sãos e salvos de sofrer
Olha lá, quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá, quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar
Eu que já não quero mais ser um vencedor
Levo a vida devagar pra não faltar amor

Olha você e diz que não
Vive a esconder o coração

Não faz isso, amigo
Já se sabe que você
Só procura abrigo
Mas não deixa ninguém ver
Por que será?
Eu que já não sou assim
Muito de ganhar
Junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
Só pra viver em paz

Não entendo qual deve ser o significado do lado oposto, escrito no primeiro verso. Acho que pode ser algo como “aqueles que foram, desistiram e estão voltando na outra mão” (como se diz no trânsito), mas é certo que os bravos, aqueles mesmos que eu falei em "A proibição do sentir" que forçosamente não se deixam abater por nada, estão livres de sofrer. Estão livres, mas são escravos de si mesmos, pois precisam esculpir uma máscara de fortes que os deixa insensíveis e incapazes de serem realmente felizes. Constroem um muro em torno de si mesmos que deixa do lado de fora qualquer ameaça e qualquer sofrimento, mas ao mesmo tempo aprisiona do lado de dentro aquela alma que anseia encontrar a felicidade. Em outras palavras, ninguém entra e ninguém sai, então estas pessoas se tornam escravas, pois se privam do direito de ter sentimentos verdadeiros, sejam eles de alegria, sejam eles de dor.

Estas mesmas pessoas julgam que perder é ser menor do que os outros, que não ser notável é um fracasso, e por isso sempre querem a vitória a todo custo, retirando de si o direito de chorar e a capacidade de se render, pois não podem parar um tempo para se recompor, para deixar o vento bater no rosto, para chorar um pouco, pois precisam esgotar todas as suas energias numa corrida frenética por conquistas sem sentido, dignas de Alexandre Magno, que não levam a lugar algum.

No trecho seguinte me parece que o autor aponta que aquele que já desistiu de ser o típico vencedor vendido pela sociedade capitalista, ou mesmo o vencedor de outros tipos de sociedade igualmente egocêntricas, leva a vida devagar, parando quando necessário, pois assim é possível se abrir para o amor, o que acho que o falso vencedor em que somos induzidos a acreditar não é capaz de fazer. Realmente não acredito que este tipo de vencedor egoísta é capaz de amar verdadeiramente. E estas mesmas pessoas escondem seus corações de toda uma gama de bons sentimentos e intenções que lhes seriam favoráveis, negando os maus sentimentos que carregam consciente ou inconscientemente dentro de si.

Já se sabe, pelo menos para mim isso é uma verdade, que estes amigos apenas procuram nas suas conquistas um refúgio contra seus sofrimentos, decepções e sentimentos reprimidos, ao mesmo tempo em que procuram não deixar ninguém ver que eles estão fazendo isso, mas só conseguem enganar aqueles que fazem o mesmo, e o curioso é que às vezes conseguem enganar até a si mesmos! É legal a pergunta feita no fim da estrofe: por que será? Por que será que não deixam ninguém ver? Será pelo medo de assumir as suas fraquezas frente aos medos e sofrimentos que carregam por toda a vida? Julgo que sim.

Mas aquele que não é muito de ganhar, que não faz questão de ser o número um, mas que ao contrário se permite colocar-se em último lugar, como prega Lao Tsé no Tao Te Ching, faz o melhor que é capaz, se permitindo parar quando necessário e desistir quando chega o seu limite...

Só pra viver em paz!


FYM

Jerônimo Martins Marana