Neste post eu quero falar
sobre amor incondicional e perdão, mas voltando o tema para os
casais, pois se eu falar desse tema com relação a pais e filhos ou
com relação aos amigos acho que eu não teria nada de diferente
para acrescentar, porque acredito que sobre isso todo o mundo já
sabe. Creio que focando em casais eu posso englobar os amigos e a
família por dois motivos: um deles é porque em primeiro lugar, duas
pessoas que formam um casal devem, em primeiro lugar, ser o melhor
amigo um do outro, não preciso nem falar o motivo. E depois, uma
família geralmente é formada a partir de um casal, pois sem que
haja um casal não há como haver pais e filhos (um filho adotivo,
por exemplo, nasceu de um casal). Na verdade, esse texto, assim como
os outros, é mais um desabafo, pois fico triste com a ausência do
perdão e do amor incondicional e acabo me sentindo impelido a falar
o que penso a respeito.
A princípio vou começar
falando a respeito do amor dos pais, principalmente o da mãe, pelos
filhos, com o fim de comparação. Uma mãe ama o seu filho
incondicionalmente, independente de suas escolhas. Mesmo que o filho
seja criminoso e esteja preso, o instinto materno é forte e ela fará
tudo o que for possível para tê-lo de volta e para ajudá-lo a
mudar. Se o filho for viciado em drogas, a mãe, os pais farão de
tudo para que ele se livre do mal. Nunca irão julgá-lo, nunca
deixarão de amá-lo e de ajudá-lo e estarão sempre esperando até
o dia em que o filho volte para seus braços e para seu lar são e
salvo.
Entre amigos também ocorre
algo semelhante, pois quando surge algum problema entre eles, não
tarda até que o resolvam se forem realmente amigos, mesmo que o
problema os tenha afastado.
Agora eu me pergunto – e
espero tê-lo levado a questionar o mesmo – por que não acontece
o mesmo com relação ao amor “romântico”. Esse tipo de
relacionamento é tão egoísta e possessivo que raramente existe
amor incondicional nele. Muitos podem contra-argumentar, mas quando o
casal está unido é fácil. Mas não é a isso que me refiro. Volto
na questão tratada no post “A proibição do sentir”: O que
impede uma pessoa de amar à outra quando o amor não é
correspondido? Arrisco-me a dizer que é o medo. Do sofrimento, de
nunca conquistar a pessoa amada. E também uma autoimagem tão
egocêntrica, talvez até narcisista, que leva a um instinto (talvez
melhor do que “instinto” seja a palavra “desejo”) de
preservação porque o sujeito sente que a sua imagem frente aos
outros é prejudicada se ele sofrer por alguém que não o
corresponde e que, muitas vezes, o maltrata.
Decorrente desse medo surge
ódio e aversão pelo outro, o que contradiz qualquer ideia de amor
verdadeiro. Isso faz com que muitas pessoas pelo fato de terem
passado pela mesma situação, incentivem o medo nos seus amigos
quando eles gostam de alguém que não lhes retribui. Estas pessoas
acreditam (se você já se acostumou com os meus textos já deve
saber que me refiro a acreditar no nível inconsciente) que tem uma
reputação e uma imagem a proteger.
Se uma pessoa ama a outra, só
pode ser de forma incondicional, pois o amor é incondicional. Se não
for então não é amor. O amor verdadeiro não exige troca, esse é
o ideal de Platão (daí amor platônico) de amar sem exigir ser
amado, amor desinteressado, altruísta. Mesmo que o outro não
corresponda às expectativas de um, nada impede este de sentir o que
está sentindo. As pessoas falam de uma suposta relação entre amor
e ódio, mas aqui uso as palavras do mestre Eckhart Tolle: o amor não
tem opositor, chamamos vulgarmente de amor aquilo que é o oposto de
ódio.
Isso inclui e exige a
capacidade de perdoar. Vamos imaginar, para usar como exemplo, que um
casal se separou e um dos dois sai cada dia com uma pessoa diferente,
faz um monte de atrocidades com o coração do outro e tudo o mais.
Por que não se pode amar essa pessoa e ter a esperança de ela
voltar um dia, assim como a mãe do filho viciado ou criminoso? Se um
dia essa pessoa voltar arrependida, pedindo perdão e se mostrando
diferente, ou ao menos tentando, ela tem o direito de ser perdoada. É
claro que você não é obrigado a permanecer ao lado de um parceiro
que vive te traindo, mas isso não o impede de amá-lo ou perdoá-lo.
Se você se lembra do Novo Testamento, Jesus não julgou
a prostituta.
Somente uma pessoa muito
insensível e muito rancorosa não é capaz de perdoar. Mas o que a
faz agir assim é o seu apego ao passado que faz com que ela acredite
que tudo é eterno, que nada muda, e por fim, que a outra pessoa não
muda. Por estar habituada com a antiga imagem do outro ela
permanecerá rancorosa, magoada e desconfiada.
É preciso aprender a perdoar
e amar incondicionalmente, pois amor verdadeiro é incondicional, e
ser incondicional exige perdão. Com perdão o amor não é egoísta
e possessivo e supera qualquer dificuldade. Não se pode ter medo de
amar porque isso nos torna fechados, o que impede que a vida flua,
pois viveremos sempre desconfiados do namorado, namorada, cônjuge,
transformando o relacionamento numa disputa onde cada parte tenta
estar sempre acima do outro e preservar sua autoimagem, seu ego,
nunca cedendo em nada por receio de ser dominado e manipulado pelo
outro. Além disso, pode-se chegar ao nível de buscar um
relacionamento não com quem realmente amamos, mas com quem nos dá
segurança e algum prazer, que um dia acaba. Aí está, para mim, o
principal motivo do número absurdo de divórcios que vemos hoje em
dia. É óbvio que precisamos de segurança dentro do relacionamento,
mas só isso não basta, porque em primeiro lugar um relacionamento
precisa de amor.
FYM
Jerônimo
Martins Marana