segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A morte do ser humano extraordinário

Algo que tem me incomodado bastante nesses últimos anos é a ausência de uma pessoa, alguém que seja um exemplo a ser seguido, que me inspire a crescer como ser humano. Quando eu era mais novo ficava imaginando o quão superiores eram os adultos, a quantidade de conhecimento que eles possuem e a quantidade de experiências vivenciadas por eles. Era algo tão distante da minha humilde existência de criança que me submetia às suas ordens e ouvia seus conselhos, como um aprendiz ouve com muita atenção as palavras de seu mestre.

Porém, eu cresci e percebi que esse mundo mágico dos adultos super inteligentes e bem vividos não existe. Aquele ser idealizado, que iria me ensinar o significado das coisas, da nossa existência, do motivo pelo qual movo minhas ações e vivo minha vida, simplesmente sumiu. Na mesma velocidade em que os anos passaram esse ideal se esvaiu, se apagou. Hoje só consigo enxergar milhões, bilhões de pessoas perdidas em suas preocupações, seus problemas, suas aspirações materiais, ou seja, um mundo completamente diferente do qual idealizava com meus 4, 5 anos. Atualmente tenho tanto conhecimento da humanidade quanto quando tinha essa idade.

Com certeza o homem adulto possui mais conhecimento, mais habilidades físicas e mentais do que uma criança, mas quando se trata da sua parte mais fundamental, o controle de suas próprias emoções, a busca por um entendimento acerca da nossa humanidade e de nossa existência nós não passamos de crianças e, às vezes, nos comparamos a bebês!

Se você reparar bem perceberá que aqueles nomes, aquelas pessoas que são um exemplo, cujas atitudes são dignas de ser seguidas e reproduzidas, elas estão sumindo. Não que elas não existam mais, mas elas deixam de ser conhecidas pelas suas qualidades. Ultimamente tenho percebido uma tendência das pessoas a desqualificar o outro, seja ele o mendigo da praça, o vizinho que fala alto, ou mesmo o papa. E o que eu quero dizer com desqualificar? Quero dizer, simplesmente aquilo que a palavra representa literalmente – desprover alguém de suas qualidades.

As pessoas tendem a rebaixar aquele que se destaca, aquele que mostra estar um passo a frente, aquela que alcançou uma melhor compreensão sobre nós mesmos. E qual o motivo dessa atitude absurda? Será que as pessoas realmente são assim, ou alguma força me levou a acreditar nisso? Ou alguma força existente na própria sociedade a fez desacreditar de sua própria capacidade? Acredito que a resposta está nesse sistema de vida que incorporamos, que aceitamos sem reagir, sem reclamar. Essa lógica ridícula de competição, de querer estar à frente a qualquer custo. Acredito que um dos problemas fundamentais está nessa lógica que é adotada como normal, essa dinâmica de vida que nos submetemos de forma compulsória, acreditando ser a única existente. Esse pensamento incorporado à sociedade como um todo leva cada indivíduo a agir de forma coerente ao sistema. Por isso não encontramos mais esses grandes nomes, essas pessoas extraordinárias (extra – que está fora; e ordinário – aquilo que é comum, que está em sua ordem normal, ou seja, extraordinário no sentido daquilo que está fora do normal, daquilo que está fora do que estamos acostumados), pois não permitimos que elas existam. Somos condicionados a desqualificar aquele que aparece com grandes qualidades. Ao invés de nos inspirarmos nessas qualidades, focamos em seus defeitos, pois não podemos ficar para trás e a maneira mais fácil de alcançar quem está na frente é passando o pé nele.

No fim das contas quem acaba saindo perdendo somos nós, sempre nós. Longe de algo palpável para se apoiar e seguir evoluindo caminhamos a esmo obedecendo ao movimento da maré, somos escravos de um sistema sem sentido e nem nos damos conta disso. Ao invés de trabalharmos juntos em busca de evolução humana, de buscarmos um autoconhecimento, de nos preocuparmos em um futuro melhor para nós mesmos, nós fazemos exatamente o contrário. Dostoievski desenvolve no livro Crime e Castigo, uma teoria sobre o homem ordinário e o homem extraordinário. Não vou transcrevê-la aqui, mas me aproprio do homem extraordinário para explicar meu pensamento. Acredito que o ser humano extraordinário está sendo eliminado por uma multidão invejosa e robotizada. A sociedade considera o ser humano extraordinário um louco, alheio à realidade, quando na verdade ele é o único com pingo de sanidade em um mundo de loucos. O ser humano extraordinário se desfaz das amarras do sistema e procura respostas e diferentes perguntas que transcendam essa nossa existência vazia. E por inovar, por apresentar uma nova visão de mundo é perseguido (atualmente essa perseguição se dá através de preconceitos, antipatia, isolamento e às vezes as antigas perseguições violentas também), é excluído. Não que essa pessoa (essas pessoas) não mais exista, na verdade eu deposito grande parte da minha esperança na existência dessas pessoas, pois são elas que contribuem com a evolução do nosso mundo. Mas a alienação, o distanciamento constante do verdadeiro ensinamento, aquilo que há muito tempo os orientais procuram em suas filosofias de vida, está sendo massacrado pela cultura e conhecimento ocidental, pela lógica capitalista de vida, pelo domínio do mundo material, do mundo de aparências.

Me dei conta afinal que o ser humano extraordinário, aquele que busco desde minha infância como tutor, como um professor da vida, está obscurecido pela massa cega e reacionária da sociedade. Enquanto não encontro o meu tutor, sigo por conta própria a minha “batalha culminante para matar o falso ser interior e concluir com vitória a revolução espiritual" (Alexander Supertramp).

FYM

Alexandre Hernandes

2 comentários:

  1. Incrível foi a sintonia em escrevermos sobre o mesmo tema sem prévia comunicação, não o que já tem no blog, mas o próximo a ser postado.

    Acredito que muitas pessoas não seguem um estilo de vida, uma conduta diferenciada, mais pura, altruísta, menos egocêntrica, etc., porque infelizmente não conhecem esse tipo de pessoa, esse exemplo vivo que lhes prove que tal comportamento funciona. Se tivessema oportunidade de conhecer um mestre iluminado, muitos com certeza seguiriam um caminho diferente, uma vida diferente, mas não tem a prova de que a mudança no comportamento e seguir os ensinamentos de uma religião realmente funciona.
    O que eu posso dizer a essas pessoas é que sejam fortes e tentem mudar a sua mentalidade, tentem com o máximo de perseverança e acreditem naquilo que fazem. Sigam o ensinamento de algum mestre antigo, seja ele Buda, Jesus Cristo ou qualquer outro e façam o seu melhor pois diz-se que quando o discípulo está preparado o mestre aparece.

    Jerônimo Martins Marana

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  2. Se um cego estiver reclamando que não está enxegando a luz...
    Não adiantará aumentar a claridade,
    Mas ele deve curar primeiro o próprio cegueiro.

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